Robôs vs. Monstros
por Lucas SalgadoNão é nada raro para um crítico falar mal de um filme como Transformers e receber comentários do tipo: "Este é um filme de robôs alienígenas gigantes. Não dá pra ser muito exigente." Pois bem, Círculo de Fogo prova o contrário. Ainda que esteja longe de ser uma obra prima, o longa é muito bem conduzido e pensado de forma inteligente. Conta com sequências de ação empolgantes, em que você percebe a motivação dos seres gigantes e não apenas assiste à uma sucessão de porradarias. Aqui, tudo é menos confuso e, por isso, mais interessante. Você se interessa pelos robôs, pelos aliens e mesmo pelos personagens secundários, o que não acontece nos filmes de Michael Bay, por exemplo, onde nem o diretor se interessa pelas histórias dos personagens, como ficou claro na troca de Megan Fox por Rosie Huntington-Whiteley.
Comandado por Guillermo del Toro, um diretor que possui uma visão marcante do universo da ficção e ainda possui o talento para contar histórias fantásticas com precisos toques de humor e drama, Círculo de Fogo é muito mais do que um filme de robôs contra monstros. Na verdade, a última frase está equivocada. Ele é exatamente um filme de robôs contra monstros. A diferença é que del Toro faz de um filme de robôs contra monstros algo muito melhor que a média do cinemão de entretenimento em Hollywood, os chamados blockbusters.
Ainda que conte com alguns diálogos sofríveis e com cenas que se encaixariam em longas de Roland Emmerich, em especial Independence Day e Godzilla, o longa é quase que um sonho de menino. É claro que uma mulher pode e, provavelmente, irá se divertir com a obra, mas é inegável que o público masculino, que brincou com robôs quando criança ou assistiu programas como National Kid, Jaspion, Changeman, Power Rangers ou qualquer outro que tenha ido ao ar na geração de cada um, vai aproveitar mais.
O filme poderia muito bem se chamar Robôs vs. Monstros ou Transformers vs. Godzilla, sendo que é melhor que Transformers (qualquer um dos três) e que o último Godzilla. Conta a história do planeta Terra, que começa a receber ataques de monstros que surgem das profundesas do oceano, após a formação de rachaduras nas placas tectônicas localizadas numa área do Pacífico conhecida como círculo de fogo. Tais monstros são logos chamados de Kaiju e ameaçam a segurança do planeta.
Acuados, os humanos decidem lutar e desenvolvem o programa Jeager, em que constroem robôs gigantes para enfrentar os "bichos". Tais robôs devem ser pilotados por duas pessoas, que dividem suas consciências para comandar a armadura. Por causa disso, é necessária uma compatibilidade mental, o que faz com que a maioria das duplas de pilotos sejam formadas por parentes. Charlie Hunnam vive Raleigh, um ex-piloto de jeager que é convencido a retomar a função para uma última missão. Ele contará com a ajuda de Mako (Rinko Kikuchi) e terá que obedecer ao comandante Stacker (Idris Elba).
O elenco conta ainda com as presenças de Charlie Day, Max Martini, Clifton Collins Jr. e Timothy Gibbs. Isso sem falar em Ron Perlman, que vive o exótico Hannibal Chau, um homem especializado em traficar produtos originados dos monstros. Como em Blade 2 e Hellboy, Perlman volta a viver um bizarro personagem em um filme de del Toro, e não decepciona.
Guillermo del Toro leva seu trabalho muito à sério, mas sempre deixa claro que é preciso saber rir de suas próprias obras. Isso é evidente na ceninha que aparece durante os créditos finais. Contando com uma ação eletrizante, Pacific Rim (no original) erra quando tenta investir em um antagonista que não seja um monstro gigante. Quando deixa de lado intriguinhas de pilotos para mostrar o que realmente importa, a luta de gigantes, a produção melhora.
O grande mérito do filme está na excelente qualidade de seus efeitos visuais. O nível de detalhes dos robôs é impressionante. Infelizmente, por motivos comerciais, optou-se por uma conversão para o 3D, que prejudica muito algumas cenas de lutas, tendo em vista que a maioria acontece no escuro.