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    Infância Clandestina
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Infância Clandestina

    O peso da ditadura

    por Francisco Russo

    A abertura democrática vivida a partir dos anos 1990 permitiu que boa parte do cinema latino-americano pudesse remoer, cada país à sua maneira, as dores causadas pela ditadura militar nas décadas anteriores. Dentre este universo, vêm da Argentina alguns dos filmes mais incisivos sobre o assunto, como o pesado Crônica de uma Fuga. Em Infância Clandestina, coprodução com Brasil e Espanha, o diretor Benjamín Avila não ameniza o peso da situação, mas explora outras variantes para transmitir ao espectador o quão grave foi a perseguição empreendida pelo governo da época.

    A mais clara delas é a partir do ponto de vista do personagem principal da história: o garoto Juan (Teo Gutiérrez Romero), também conhecido como Ernesto devido à necessidade da adoção de uma identidade falsa. Seus pais, Horácio (César Troncoso) e Cristina (Natalia Oreiro), lutam contra o governo vigente e, por causa disto, precisam adotar uma série de medidas de proteção para que possam ajudar a resistência sem que sejam capturados. Com isto, toda a realidade do combate à ditadura é mostrada a partir dos olhos de uma criança, o que por si só já ameniza bastante o peso empregado, apesar de Juan/Ernesto estar longe de ser leigo quando o assunto é cultura guerrilheira.

    A segunda variante empregada é um capricho gráfico que faz toda a diferença para o filme como um todo. Ao invés de mostrar as cenas violentas com os próprios atores, Benjamín Avila resolveu apresentá-las usando desenhos no estilo quadrinhos. Com isso o diretor conseguiu transmitir ainda mais a gravidade dos fatos, por usar o grafismo para apresentar de forma mais explícita o ocorrido. O resultado é um prólogo poderoso, que captura o espectador para esta dura realidade, e um desfecho também impactante.

    Entretanto, nem só de ditadura é feito Infância Clandestina – e este é outro trunfo do filme. O conceito de família é bastante explorado, mesmo que esta possua uma série de neuroses e limitações. De certa forma, o filme lembra um pouco o brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, pelo fato do protagonista ser também um garoto que, apesar de sofrer as consequências da ditadura, tenta levar uma vida normal. O mesmo acontece com Juan/Ernesto, especialmente quando passa a sentir na pele os efeitos do primeiro amor.

    Infância Clandestina é um filme que mescla com habilidade um tema pesado, como a luta contra a ditadura militar, ao mesmo tempo em que consegue ser leve ao abordar o processo do apaixonar-se. Cenas como a da fuga em meio ao acampamento e as conversas entre Juan/Ernesto e seu tio Beto (Ernesto Alterio, disparado o melhor em cena) são cativantes e mostram uma vida que poderia ser verdadeira caso não existisse a sombra permanente da ditadura. Um belo e impactante filme.

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