Cadê o autor?
por Lucas SalgadoO mais frustrante com relação à 12 Horas é, sem dúvida, o fato de conhecermos bem a carreira do diretor Heitor Dhalia. O brasileiro iniciou sua trajetória arriscando pesado com Nina, que tem seus problemas mais é eficaz ao se apresentar como uma nova abordagem do clássico da literatura "Crime e Castigo". Na sequência, realizou o ótimo O Cheiro do Ralo, estrelado por Selton Mello, e À Deriva, em que teve um primeiro contato com atores estrangeiros, no caso Vincent Cassel e Camilla Belle. Quando anunciou que faria sua estreia em Hollywood gerou uma expectativa interessante, mas acabou decepcionando. Seu novo filme é totalmente ordinário, não possuindo um elemento sequer que o faça destoar de outras produções do gênero. Uma obra feita mecanicamente, cuja a presença de um "autor" não é notada.
Dhalia até conseguiu um elenco interessante em sua estreia no cinema norte-americano. Jennifer Carpenter (Quarentena), Daniel Sunjata (O Diabo Veste Prada) e Wes Bentley (Jogos Vorazes) são bons coadjuvantes, embora o último seja totalmente desperdiçado. E, claro, há Amanda Seyfried, que pode não ser dos nomes mais talentosos de Hollywood, mas que já demonstrou ter uma boa presença em obras como Mamma Mia! - O Filme e Cartas para Julieta. A atriz cumpre bem sua função de "parecer assustada" em 12 Horas e acaba construindo uma personagem interessante. Em meio a tantos elementos-clichês do cinema de suspense, é interessante conferir uma protagonista que mente de forma compulsiva e criativa. O longa seria ainda pior sem Seyfried.
Como é comum com diretores estrangeiros que estreiam em Hollywood, Heitor Dhalia teve alguns problemas com o estúdio, que não lhe deu controle criativo sobre a obra. Mas como ele assinou tal contrato, também não pode ser eximido da qualidade final de seu filme. Ao menos se saiu melhor que Walter Salles, que debutou no cinema norte-americano com um terror/suspense ainda pior: Água Negra.
Gone (no original) conta a história de Jill (Seyfried), uma jovem que escapou de um serial killer há alguns anos e que agora acredita que o mesmo sujeito raptou sua irmã mais nova, Molly (Emily Wickersham). Ela terá que lutar contra a desconfiança das pessoas que não acreditam que tenha sido sequestrada em primeiro lugar. Este é o caso dos policiais Powers (Sunjata) e Peter (Bentley). A obra brinca com essa descrença, mas são poucas as surpresas com relação ao desfecho.
Quase nada na produção merece aplausos. A trilha de David Buckley é totalmente ordinária, não lembrando em nada seu ótimo trabalho em Atração Perigosa. Com relação à fotografia de Michael Grady (A Mentira) cabe elogios na abordagem da floresta local e das cenas noturnas, mas também cabem críticas às tomadas de dia, que são totalmente sem personalidade.
12 Horas está longe de ser uma tragédia, mas está mais distante ainda dos longas anteriores do diretor brasileiro. Assim, é difícil não se decepcionar e torcer para que ele escolha melhor o próximo projeto.