Sacrifício: Crítica AdoroCinema

A história da China, repleta de disputas internas até a formação definitiva do território do país, começou a ganhar maior notoriedade no cinema graças ao trabalho do diretor Zhang Yimou. Mesmo não sendo retratos fiéis dos acontecimentos históricos, filmes como Herói, O Clã das Adagas Voadoras e A Maldição da Flor Dourada trouxeram ao público ocidental um pouco dos costumes e hábitos culturais dos chineses, explorando também o requinte das lutas. Em Sacrifício é a vez do diretor Chen Kaige, mais conhecido pelo premiado Adeus, Minha Concubina e o sensual Mata-me de Prazer, apostar neste filão, com bons resultados.

O longa-metragem traz um certo ar shakespeariano, pela presença de conspirações no reino – alguém lembrou de Hamlet? – e a história com fortes tons trágicos. Tudo começa quando Tu'an Gu (Xueqi Wang, severo como o personagem exige), cansado de ser menosprezado pelo clã Zhao, decide eliminá-lo de uma só vez. Só que há um problema: um bebê recém-nascido consegue escapar do cerco, graças à ajuda do médico que fez o parto (You Ge, muito bem). Após perder o próprio filho e a esposa, ele passa a cuidar da criança com um grande objetivo: que ela o vingue ao crescer, matando Tu'an Gu.

Diante desta história, Sacrifício possui três atos muito bem definidos: o extermínio dos Zhao, o crescimento de Bo'er e quando ele chega aos 15 anos. Se por um lado esta estrutura, anunciada logo no terço inicial, cria uma certa previsibilidade na história como um todo, por outro os caminhos percorridos pelos personagens principais fogem do esperado e conseguem surpreender o espectador. O único senão é na duração. Com 122 minutos, o longa deixa a sensação de que foi esticado um pouco além da conta, especialmente na fase de aproximação do pequeno Bo'er com Tu'an Gu, que se torna seu padrinho. É o ovo da serpente sendo chocado bem ao lado da possível vítima.

Requintado visualmente, tanto na fotografia quanto no figurino, Sacrifício é um filme que representa bem os simbolismos da tradição chinesa. O maior exemplo é a animação em papiro, usada com elegância para apresentar a Bo'er a história ocorrida até então – e já mostrada ao espectador, através dos próprios atores. Um forte tom dramático percorre todo o longa-metragem, seja pela gravidade dos eventos do primeiro ato da história ou pela importância (ou não) que a vingança ganha com o passar dos anos. Bem atuado, o filme conta ainda com uma boa dose de criatividade na forma como os eventos acontecem e ainda conta com lutas intensas e bem coreografadas, no melhor estilo Zhang Yimou. Bom filme.