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    Chappie
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Chappie

    O bom selvagem (versão 2.0)

    por Bruno Carmelo

    Chappie é um projeto ambicioso. Com a história de um robô policial que adquire sentimentos humanos através de um experimento secreto, o filme tenta combinar ação, suspense, comédia, ficção científica e crítica social, sendo ao mesmo tempo moderno e retrô, violento e afetuoso, pop e underground, um filme para adultos e uma história para toda a família. O diretor Neill Blomkamp deseja brincar com os clichês de gângsteres, de cientistas brilhantes, de robôs mais humanos que pessoas comuns, de mafiosos e de famílias disfuncionais, enquanto fala sobre a pobreza na África do Sul, a inteligência artificial, a segurança nacional, a cobiça, a importância de acreditar em si mesmo...

    Como pode parecer, o resultado é uma bagunça. Poucos diretores conseguem transitar entre tantos temas e gêneros de maneira coesa (como Spike Jonze em Ela, por exemplo), e Blomkamp se perde em uma história confusa, às vezes simplesmente absurda. O segredo mundial para a inteligência artificial é guardado em um único pen drive com pouquíssima segurança, a diretora de uma empresa visando o máximo de lucros não se importa com a possibilidade de ter robôs inteligentes (sem que isso lhe custe nada), um gênio da informática se motiva com a simples frase “controle a sua vida” em um panfleto de autoajuda, um gângster precisa de Chappie para um roubo importantíssimo, mas entrega o robô a um grupo de ladrões para ser quebrado e abandonado.

    Isso sem falar no imaginário futurista bastante simples criado por Blomkamp. Neste mundo de tecnologia sofisticada, o robô ganha sentimentos através de arquivos “Emoção.dat”, “Consciência.dat”, transmitidos de um computador caseiro aos robôs, passando por uma plataforma que lembra o velho DOS. Após o rápido carregamento, as máquinas já saem falando, brincando, chamando os humanos de “mamãe” e “papai”. O próprio aprendizado de Chappie, quando passa a desenvolver sentimentos, demonstra incoerência: ele sequer domina algumas palavras básicas, mas constrói frases com gramática complexa e domina sentimentos como o perdão e o remorso.

    Para quem não estiver esperando muito sentido desta história, é possível se divertir com o ritmo ágil da trama. Blomkamp sabe construir cenas espetaculares, abusando das explosões em câmera lenta rumo ao final. Sigourney Weaver, Dev Patel e Hugh Jackman são muito competentes, mesmo em papéis maniqueístas como estes. A aparição do trio em tela melhora o nível da narrativa, em comparação às atuações fracas dos músicos e atores amadores Yo-Landi Visser e Ninja Visser. Neste sentido, as cenas no escritório são muito mais interessantes do que o núcleo familiar na usina abandonada.

    Mesmo contando com um orçamento reduzido (a grande empresa de segurança tem as dimensões de um pequeno escritório de contabilidade), Chappie consegue manter uma aparência naturalista na direção de arte e na fotografia, que nunca embeleza excessivamente os corredores cinzentos ou os edifícios da cidade. Exceto pelas roupas coloridas dos ladrões (Yo-Landi e Visser), este é um universo cinzento, marcado pelas desigualdades sociais. Enquanto o roteiro insiste em simbologias rasteiras (o robozinho rejeitado tem um adesivo de “rejeitado” na testa, veja só a sutileza), a equipe técnica se esforça para tornar o conjunto orgânico.

    No fim das contas, apesar de tantas ambições e tantos discursos, Chappie deixa seu aspecto social em segundo plano, aderindo aos clichês das grandes produções hollywoodianas. Rumo à conclusão, o roteiro justifica a necessidade de violência, aplicando a lógica belicista de que os fins justificam os meios. Neste mosaico de guerra, Chappie nada mais é do que o bom selvagem, o robô inocente corrompido pelos homens malvados, cínicos e desumanos. Partindo de uma premissa tão complexa e multifacetada, Blomkamp conclui seu filme com o simples moralismo à americana.

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