Correr ou morrer
por Francisco RussoEm um cenário paradisíaco nas ilhas Canárias, dois carros fazem uma disputa particular em uma estrada estreita, à beira de um abismo. A tensão pela situação se mistura com a beleza do lugar, representando com exatidão o que se tornou a série Velozes & Furiosos após o quinto filme, situado no Rio de Janeiro. Seguindo a fórmula James Bond, agora Vin Diesel e companhia percorrem diversos lugares mundo afora e, é claro, fazem seus pegas nestes cenários pitorescos. A novidade trazida por Velozes & Furiosos 6 não é propriamente no formato, consagrado pelo sucesso dos filmes anteriores, mas na dimensão que tudo ganha. Trata-se, sem sombra de dúvidas, do mais grandioso exemplar da série.
Dito isto, o novo filme traz as mesmas deficiências que já se tornaram recorrentes – e marca registrada – da série como um todo: a incrível inexpressividade de Paul Walker, a canastrice de Vin Diesel, o roteiro mirabolante e incoerente e, é claro, a clássica cena do pega onde carros e mulheres seminuas aos som de hip hop dividem a mesma cena. São todas características típicas de Velozes & Furiosos, as quais não podem faltar em qualquer filme da série. O grande lance deste sexto episódio é que há um clima de não se levar nem um pouco a sério, presente não apenas nas cenas de ação mas especialmente nos atos dos personagens principais e na interação entre eles. O maior exemplo é a quantidade de piadas em torno de Dwayne Johnson, ressaltando seu porte físico, e a divertida sequência por ele estrelada ao lado de Ludacris.
O humor, por sinal, é um dos destaques de Velozes & Furiosos 6. Especialmente através de Tyrese Gibson, que assume a função de piadista da hora. Com tiradas espirituosas, em diversos momentos ele rouba a cena e chega até mesmo a ofuscar os protagonistas. O lado família, marcante em Velozes & Furiosos 5 - Operação Rio, mais uma vez marca presença, não apenas pela união em torno de Dom mas também no sentido literal: agora Brian (Walker) é pai e, como tal, possui responsabilidades. Quer dizer, mais ou menos, pois a esposa (Jordana Brewster) é sempre bem condescendente com as aventuras do maridão. Difícil aceitar que, numa família minimamente normal, algo do tipo acontecesse. Mas como normalidade passa longe do universo de Velozes & Furiosos, tudo bem.
Entretanto, o grande carro chefe de Velozes & Furiosos 6 são as cenas de ação. Gigantescas, impactantes e por vezes brutais, como as duas impressionantes lutas entre Michelle Rodriguez e Gina Carano. A força bruta também vem à tona nas poucas lutas envolvendo The Rock, especialmente em seu combate final. Porém, são as perseguições que mais chamam a atenção. Não apenas pelo absurdo do que acontece mas também pelo lado visual, especialmente quando o carro-rampa do vilão Owen Shaw (Luke Evans) surge em cena causando capotagens espetaculares.
Velozes & Furiosos 6 é um filme que cumpre com eficiência aquilo que se propõe a ser: puro entretenimento. O roteiro é mal amarrado – por mais que haja um esforço em interligá-lo com os filmes anteriores da série -, o elenco é exagerado e há diálogos pra lá de batidos. Porém, há também cenas de ação absurdamente deliciosas, daquelas que deixam o espectador boquiaberto diante do quão impossível é aquilo visto em cena, e soluções visuais bacanas que funcionam para o filme como um todo. É o chamado “guilty pleasure”, ou diversão com culpa, pelo reconhecimento do quão toscas são certas situações e, ainda assim, ser um filme bem divertido. Aos apressados de plantão, fica ainda o aviso de que há uma importante cena após o término do filme, antes dos créditos finais, com uma surpresa parecida com a presente no quinto episódio. Vale a pena aguardar.