Missão dada é missão cumprida
por Roberto CunhaPoucas sequências nacionais, salvo algum engano, poderão ostentar em seu currículo a marca de ser tão aguardada sem fazer parte de símbolos populares como Trapalhões, Xuxa e, em outra época, Mazzaropi. Tropa de Elite 2 gerou burburinho e chega no circuito com força de arrasa quarteirão hollywoodiano. É ponto para o Brasil. Sem imagem e com o barulho do manuseio de armas, uma mensagem na tela revela que Você irá assistir uma obra de ficção "apesar das possíveis coincidências". O aviso é mera formalidade porque após uma "abertura aperitivo" com música tema e imagens rápidas do primeiro filme, o clima do original já tomou conta da sala escura. E o bicho vai pegar. A narrativa segue a mesma linha de voltar no tempo para situar o espectador onde a nova história começou. E quem conta, claro, é o eterno Capitão Nascimento (Wagner Moura), agora Coronel, com seus indefectíveis "trejeitos verbais" incorporados no dia a dia de muitos brasileiros.
Na trama, além de enfrentar problemas de ordem pessoal e afetiva, ele foi retirado do comando do BOPE para trabalhar no serviço de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Estado. A intenção dos inimigos era colocá-lo "na geladeira" para não incomodar as atividades do grupo, infiltrado em diversos setores da sociedade e faturando alto com isso. Mas uma vez caveira, sempre caveira, parceiro. E aí começam os muitos pontos positivos do filme. O primeiro, sem sombra de dúvida, é a coragem de cutucar a onça com a vara em forma de longa, carregado de críticas aos detentores do poder que nada fazem para mudar o caótico cenário da politica de segurança no Rio de Janeiro e também no Brasil. A crítica é ferrenha, fala de nojo do uniforme azul (PM-RJ), e ainda dá nomes aos bois (mesmo que fictícios), deixando o cidadão bem próximo daquilo que ele conhece de perto ou, pelo menos, já viu nos noticiários. É a realidade, nua e crua. Na verdade, podre. E apesar da complexidade do tema, a válvula de escape é o humor e o deboche, com direito até a citação shakesperiana. Nascimento descobriu ter criado um monstro ao livrar o morro do tráfico e o roteiro bem costurado explora as cenas de ação e tensão com o auxílio luxuoso de uma edição de alto nível, som de qualidade e uma boa trilha sonora. E diferente do primeiro, os conflitos do personagem são mais elaborados, o elenco coadjuvante original continua coeso e destacam-se ainda Irandhir Santos (Fraga), Sandro Rocha (Major Rocha) e André Mattos (Fortunato).
A sequência se mantém fiel com cenas de violência e pontos consagrados junto ao público, que será seduzido por frases curtas e de bom efeito do "capitão", e ainda se deliciar novamente com as muitas expressões com vocação para bordões como as pérolas "roubo zero", "taxa do eu sei", entre outras, mais pornográficas, porém divertidas. Uma das maiores responsabilidades de José Padilha e Marcos Prado era conseguir fazer uma sequência a altura do que foi Tropa de Elite, sucesso inconteste do cinema nacional. Com Tropa de Elite 2 eles provaram que a máxima de seu personagem tá valendo: Missão dada é missão cumprida.