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    O Mordomo da Casa Branca
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Mordomo da Casa Branca

    A arte de ser invisível

    por Roberto Cunha

    Alguns filmes chegam nos cinemas brasileiros depois de um certo tititi sobre eles, com a estreia nos Estados Unidos e em outros países. Pode ser por uma polêmica aqui, um detalhe importante ali, ou porque já aparece com a força de grande candidato ao prêmio maior do cinema mundial, o cobiçado Oscar. O Mordomo da Casa Branca faturou mais de US$ 100 milhões nas bilheterias americanas e marca um X nesta última opção. E existem razões de sobra para se acreditar nisso, entre elas, o fato de ser baseado em uma história real, ter questões raciais e revelar a "famosa" superação, com uma jornada e tanto de seu protagonista servil. Se vai servir para você, só entrando na sala escura para conferir.

    O pequeno Cecil Gaines causou a morte do pai nos anos 1920 e viu sua mãe enlouquecer. Daí em diante, mudou sua maneira de agir, como se tivesse entendido o mundo dos brancos: "Sobrevivemos nele", dizia o pai. Mais tarde, já dominando a "arte" de ser invisível, de se antecipar ao que "eles" querem e, principalmente, ter duas caras, o jovem que aprendeu a servir na "casa grande", torna-se o mordomo oficial do presidente dos Estados Unidos e por lá fica durante mais de 30 anos. Mas ser tão obediente na Casa Branca trouxe consequências na casa do negro. Fosse pela ausência dele (outra invisibilidade) sentida pela esposa (Oprah Winfrey) às voltas com a bebida, ou pela passividade diante do preconceito, que mobilizava o filho mais velho (David Oyelowo). Através da narração de Gaines (Forest Whitaker), o espectador viaja no tempo, vivendo esse paralelo de conflitos do país e do protagonista com sua família, passando por sete presidentes e acontecimentos históricos da sociedade americana, em cenas ficcionais ou reais. Estão lá os Passageiros da Liberdade, a Ku Klux Klan, a morte de Kennedy, Malcolm X, a Guerra do Vietnã, a morte de Martin Luther King (da canção "Pride", do U2), o Apartheid, a criação dos Panteras Negras, entre outros.

    Além das ótimas atuações do já citados, o elenco é de famosos e a maioria em pequena participações especiais, como Robin Williams, John Cusack, Jane Fonda, Cuba Gooding Jr. e Terrence Howard. O roteiro de Danny Strong, premiado com Virada no Jogo, segue uma cartilha conhecida, sem lampejos de criatividade, mas é possível destacar alguns pontos, como a crítica do filho revoltado ao ator Sidney Poitier, por ele se comportar como um branco, uma violenta sequência na lanchonete em contraponto a um jantar servido na residência presidencial, e um leve humor ao frisar a mania do presidente Lyndon Johnson tratar assuntos no banheiro. Apesar do insistente recurso do protagonista contando tudo, existem alguns bons diálogos, cenas de boa tensão e, claro, emoção.

    Algumas pessoas podem achar que este novo projeto produzido e dirigido por Lee Daniels (do premiado Preciosa - Uma História de Esperança) acelera em alguns momentos e em outros reduz a velocidade para envolver você, buscando uma cumplicidade. Se você compra a ideia ou não, é contigo mesmo, e o papel do roteiro é jogar a isca para alguém morder. Outros, podem simplesmente considerar um emaranhado de informações, sem aprofundamento, esquecendo que o longa se baseia em fatos reais, mas não é um documentário. Para os que já enxergaram semelhanças com Forrest Gump (1994) e acharam positivo, o "passeio" é longo (mais de duas horas), chega até a eleição de Barak Obama, e vale o ingresso. Quem pensa diferente, melhor manter a distância, mas cuidado com o preconceito. Não é crime fazer filmes comuns, redondos, que consigam dialogar com o público. Sim. Eles podem.

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