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    A Negociação
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Negociação

    Reflexos corruptos

    por Lucas Salgado

    A Negociação já diz a que veio em seus primeiros instantes. Ao abordar a questão do mercado, destaca que coisas ruins podem acontecer a qualquer momento. O longa segue este espírito, mas não somente com relação ao mundo dos negócios. 

    Richard Gere vive Robert Miller, um milionário que está prestes e vender sua companhia para um grande banco e deseja fazer isso da forma mais rápida possível, para evitar que uma fraude sua seja revelada. Ao mesmo tempo, divide suas atenções entre sua "família perfeita" e sua amante (Laetitia Casta). Ao sofrer um acidente de carro após dormir ao volante, Miller se vê em uma situação inesperada. A amante, que lhe acompanhava, morre e ele acaba abandonando o local do acidente.

    O resto da trama traz o sujeito tentando encobrir seus passos, mas o mérito do longa é não fazer disso o único foco da história. Trata-se de uma obra sobre a corrupção pela riqueza. O personagem de Gere não é apenas corrupto nos negócios, também o é em sua vida pessoal, colocando seus familiares em situações constrangedoras.

    É importante destacar, que não é somente Miller que possui problemas morais, também vistos nos personagens de Susan Sarandon, Tim RothNate Parker. Nenhum deles está imune à vontade de colocar os interesses próprios na frente dos outros.

    O diretor Nicholas Jarecki, estreante em longas de ficção, fez um bom trabalho, principalmente na condução da narrativa, que é fria, mas nunca parada. Envolve intriga, drogas e sexo sem cair em estereótipos.

    O principal mérito da produção está na seleção do elenco. Gere tem sua melhor atuação em vários anos. Ele passa muito bem o sentimento do protagonista e a sensação de urgência que emana de seus problemas. É impressionante como seu personagem entrega variações de tons muito diferentes em uma mesma conversa. Sarandon surge como uma mãe protetora e esposa dedicada, mas ao longo da história também mostra suas garras. Outro destaque é a jovem Brit Marling, que já havia chamado muito a atenção em A Outra Terra. A atriz vive a filha de Miller, que descobre as fraudes do pai e é obrigada a confrontá-lo.

    Com relação aos confrontos, é importante notar, que o longa possui pelo menos quatro grandes diálogos em que personagens contestam uns aos outros. Nestes momentos, percebemos a importância de um elenco em total sintonia.

    Evitando doses de sensacionalismo, o roteiro de Jarecki não investe em grandes surpresas. O protagonista é colocado em uma situação difícil, mas sempre mantém a pose e a imponência. É curioso notar o quão importante é a questão do reflexo em A Negociação. A câmera, sempre que possível, passa por uma superfícies reflexivas, como vidros de carro e da fachada de prédios, o que ganha um significado bem mais forte diante de um personagem principal que só se importa com aquilo que vê diante do espelho.

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