O recado está dado
por Roberto CunhaVocê apostaria seu dindin do ingresso no segundo filme de um cineasta pouco conhecido? Adiantaria saber que o primeiro foi ótimo e abordou a questão das diferenças sociais com criatividade e ficção científica? Seja bem-vindo a Elysium, nova empreitada do sul-africano Neill Blomkamp, que volta a cutucar a onça com vara longa (metragem) pra fazer o espectador refletir um pouco mais sobre a desigualdade entre os povos.
Em um futuro não muito distante, a Terra está doente. Enquanto a população vive em condições precárias, um seleto grupo de terráqueos habita um oásis, espécie de Abu-Dhabi, só que flutuante. Nessa estação espacial (título da produção) em órbita do planeta, a segurança e os serviços são feitos por robôs sob o comando do homem. Lá, a morte está controlada, o poder da cura é uma realidade, mas a luta pelo poder ainda é uma doença. É quando o interesse por salvação de Max (Matt Damon), trabalhador infectado por radiação e com cinco dias de vida pela frente, converge com um golpe de estado planejado por uma ambiciosa secretária de defesa (Jodie Foster). Mas eles estão em lados opostos e os planos de ambos poderão sofrer uma drástica mudança.
Produzido e escrito por Blomkamp, o roteiro é simples, toma muitas licenças e revela rápido os objetivos de cada personagem, sem se aprofundar muito nos conflitos. Com flashbacks do protagonista (Damon), você descobre que ele era um errante desde moleque, mas tinha um "q" de predestinação para mudar o mundo. Seu primeiro amor (um pouco piegas) daquela época já é mãe (Alice Braga) e tem uma filha com doença terminal. Também representante da "pátria amada idolatrada salve salve", Wagner Moura faz um expert em tecnologia e sabe como fazer Max chegar até o seu objetivo, porque vive como um explorador da esperança dos cidadãos, que almejam dias melhores lá nas alturas. Uma espécie de coiote do futuro. Qualquer semelhança com os famigerados movimentos migratórios em busca de melhores condições de vida em outros países não terá sido mera coincidência. Completam o time o ator Sharlto Copley, que volta a trabalhar com o diretor, e ainda William Fichtner e Diego Luna, outro da "cota" latina.
Com efeitos especiais modestos, muito bons e bem aplicados, o visual é impactante, algo que o cineasta já tinha conseguido fazer - com menos recursos - em Distrito 9. E assim, seguindo sua "tradição", as imagens do paraíso, da desolação, os robôs, naves, veículos, tiros e combates corpo a corpo estão a serviço da história, não extrapolando a exagerada (e quase orgásmica) necessidade de algumas produções do gênero em mostrar muito do mesmo. Destaque também para a boa trilha sonora do estreante Ryan Amon, que se mistura bem aos diálogos curtos e ao humor (sarcástico), conferindo uma boa agilidade para Elysium, que dá o seu recado, mesmo que venha a soar repetitivo para algumas pessoas.