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    Intocáveis
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Intocáveis

    Os opostos se atraem

    por Bruno Carmelo

    Não é só no Brasil que as comédias populares são peças indispensáveis do mercado de cinema nacional. A França também não vive sem suas produções com atores televisivos, de humor fácil, às vezes apelativo. A base das histórias costuma ser a comparação entre opostos, a diferença nada sutil entre grupos distintos. Assim como o Brasil tem seu Se Eu Fosse Você, a França tem este Intocáveis, que se tornou o segundo maior sucesso de bilheteria da história do cinema francês.

    Os opostos em questão são Driss (Omar Sy), que é negro, pobre, inculto e agressivo, e Philippe (François Cluzet), que é branco, milionário, refinado e elegante. O primeiro dança como um rei da soul music, já o segundo é tetraplégico. Com um recurso bastante improvável do roteiro, Driss torna-se o assistente de Philippe. Assim começa a comédia.

    Diversas pessoas pararam por aí e já criticaram o filme em sua origem. A simples presença de estereótipos, evidentes e voluntários neste caso, foi percebida como sinônimo de baixa qualidade. Ora, o mais interessante neste caso é pensar como foram usados os estereótipos. O que poderia constituir apenas mais um filme grandiloquente sobre a tolerância da diferença acaba sendo, neste caso, uma obra muito mais inteligente.

    Inicialmente, Intocáveis está interessado em mostrar como estes dois homens reconhecem muito bem seus grupos sociais, e estão cansados de serem inseridos neles. Para o roteiro, interessam mais as semelhanças improváveis entre ambos (a paixão pela música, o respeito pela família, o prazer pelos esportes radicais, o desprezo pelas convenções) do que suas diferenças. Grande parte do humor vem justamente das aproximações entre ambos.

    Isto não significa que esta produção seja subversiva, ou que ela rompa com os clichês, nada disso. Ela apenas o utiliza como ponto de partida. Os dois homens são devidamente humanizados, e mantém seus tons politicamente incorretos do início ao fim. As deficiências de cada um (social em um caso, física no outro) servem para torná-los semelhantes e complementares.

    Com esta parte esclarecida, pode-se dizer que Intocáveis tem um ritmo notável, praticamente um modelo a ser seguido por muitas comédias por aí. Com quase duas horas de duração, ele explora todas as possíveis piadas de origem religiosa, política, sexual e outras, sem jamais se estender demais no texto ou na montagem. Apresenta-se o humor e passa-se a outra coisa. Isso evita que algumas sequências percam a graça, ou que o filme canse. Da primeira à última cena, o ritmo do texto é intenso, enxuto. O cuidadoso trabalho do roteiro foi essencial para o sucesso desta produção.

    A crítica americana acusou Intocáveis de racismo, já a francesa insistiu que o filme quer propagar estereótipos. Os dois argumentos parecem exagerados para esta produção muito mais humana do que se imaginava. Ao evitar tanto o moralismo quanto o prazer da polêmica, Intocáveis consegue ser uma comédia escrachada, politicamente incorreta, mas perfeitamente equilibrada em seu discurso, capaz de agradar adultos e jovens, de direita ou esquerda, de qualquer etnia ou grupo social. Talvez por isso ele tenha conquistado um sucesso tão grande na França e no mundo.

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