Polissia: Crítica AdoroCinema

Pedofilia. A simples menção da palavra já provoca calafrios, especialmente nos pais e em todos aqueles que lidam, de alguma forma, com crianças. Agora imagine como é a vida daqueles que precisam lidar, dia após dia, com investigações sobre o tema. É este território pesado o tema central de Polissia, drama francês inspirado em casos reais vivenciados pelo Batalhão de Proteção aos Menores de Paris.

Pelo tema abordado, pode-se esperar de imediato um filme duro. Afinal de contas, a numerosa equipe de policiais recebe casos muitas vezes revoltantes e surpreendentes, seja pela ingenuidade ou – na maioria dos casos – pelo cinismo dos envolvidos. Entretanto, mais do que relatar casos de pedofilia ou abusos de menores um atrás do outro, Polissia ganha pontos ao exibir como tais situações influenciam os próprios policiais envolvidos. Suas reações, absolutamente humanas, refletem em vários casos o próprio espectador em sua surpresa diante do ocorrido, criando uma certa identificação com o policial em destaque.

Em sua busca pela veracidade, Polissia também merece destaque por mostrar policiais que não são perfeitos. Apesar de serem extremamente dedicados ao trabalho que realizam, em vários momentos até mesmo ultrapassando suas obrigações profissionais, eles cometem falhas em suas vidas particulares como qualquer outra pessoa. Além de, mais uma vez, humanizá-los, estas imperfeições desmistificam a imagem do policial como herói, tornando-o gente como a gente também neste sentido. O filme leva também em consideração o fato que, pelo lado passional envolvido, muitas vezes os policiais ficam mais tempo com seus companheiros de trabalho do que a própria família. Ou sejam, eles trabalham, vivem e muitas vezes se divertem juntos, criando um elo ainda mais forte entre eles.

Entretanto, nem tudo são glórias para a equipe de policiais do batalhão de Paris. Lá como cá, também há limitações de infra-estrutura e influência política nas operações realizadas. Há também a frustração pelo fracasso, mostrando os dois lados de um trabalho complicado que, em muitos casos, é difícil não se ver emocionalmente envolvido. Por todos estes motivos, Polissia é um filme que merece ser visto. Com cuidado e preparado para o que está por vir, já que, apesar de não haver algo explícito, o filme contém cenas fortes que incomodam. Destaque para a atuação de JoeyStarr como o passional Fred e para a sequência final, um verdadeiro soco no estômago do espectador.

Em tempo: não estranhe o título com SS ao invés do tradicional C. Trata-se de uma brincadeira sobre a forma errada com que as próprias crianças escrevem a palavra, além de uma referência indireta à forma torta como eles agem em certos momentos. O melhor exemplo é o antológico interrogatório com uma garota que aceitou fazer sexo oral em vários rapazes apenas para reaver o celular. Mais politicamente incorreto, impossível.