TEMPO É DINHEIRO
por Roberto CunhaSe você nunca deu muita bola para expressões como "perda de tempo" ou "tempo é dinheiro", prepare-se para encarar uma história onde elas fazem muito sentido.
A trama se passa em um futuro não muito distante onde as pessoas foram mofificadas genéticamente para viver até os 25 anos. Daí em diante, algo pode ser feito para driblar essa programação, mas para isso acontecer é preciso ganhar tempo - literalmente - e a tarefa não é das mais fáceis, uma vez que a sociedade é bem dividida entre os pobres, que trabalham, e os ricos, dominantes.
Dentro deste contexto, que flerta com a tão sonhada busca pela imortalidade, Will (Justin Timberlake) é um trabalhador que segue a máxima de viver um dia após o outro. Só que ele recebe uma "doação" inesperada e se torna alvo de uma organização que controla o tempo. Revoltado com uma perda afetiva recente, ele se rebela contra o sistema, passa a questionar a divisão de classes e sequestra a filha rebelde (Amanda Seyfried) de um poderoso magnata.
Meio que vitimada pela Síndrome de Estocolmo, a jovem passa a se identificar com a causa dele, lembrando que "os pobres morrem e os ricos não vivem". Cheio de detalhes, como uma região chamada de Greenwich, numa possível alusão ao meridiano que divide o planeta, e ainda uma curiosa inversão de papéis tendo bandidos chamados de Minutemen (heróis da revolução americana), fica nítido que muitos pontos poderiam ter sido melhor trabalhados.
O roteiro de Andrew Niccol (O Senhor das Armas), que também dirigiu e produziu, é amarrado, mas tem uns fiapos soltos com as várias licenças criativas e de tempo (sem trocadilho). São elas que permitem que os heróis façam coisas impossíveis, como ele fingir ser um segurança, sendo o único com barba por fazer, ou ela atirando com precisão sem nunca ter pego numa arma. Não dá, né? Bobeiras que poderiam ser evitadas e essa última parece ter sido falha de edição, porque numa sequência seguinte ela aparece dando uma treinada. Se não é, parece erro de montagem.
Ainda assim, a produção funciona como entretenimento, ofertando perseguições (a pé e motorizada), tiros, lutas, entre outras coisas do arsenal do gênero. Os efeitos especiais são modestos e os carros ligeiramente modificados com o ronco de motores lembrando um zumbido. Falando em veículos, Will visita uma loja e encontra dois clássicos: um Citroên DS (conhecido como Boca de Sapo) e um Jaguar E-Type.
No elenco de rostos conhecidos com pequenas participações, como Alex Pettyfer e Johnny Galecki (da série Big Bang Theory), destacam-se Olivia Wilde protagonista de uma bonita cena de emoção e suspense logo no início e Cillian Murphy, que faz um dos vilões.
Tendo como pano de fundo influências dos clássicos Fuga no Século 23, dos famosos bandidos Bonnie & Clyde e até Robin Hood, O Preço do Amanhã está longe de ser uma obra-prima, que você precisa ver hoje, mas é boa diversão. Daquelas pagas com dinheiro e tempo (dentro da sala), mas sem arrependimento porque encontrou distração.