Ih, uma continuação de um filme excelente. Enquanto muita gente torce o nariz para situações assim, eu prefiro seguir pelo caminho contrário. Quando eu soube que Kick-Ass teria uma continuação em 2013, comecei a contar as horas para poder entrar na sala escura e curtir a continuação de um dos filmes de super-heróis mais legais que assisti. Realmente Kick-Ass 2 ficou abaixo do primeiro título da série, mas ainda assim é um filme muito bom. Vale de verdade para quem é fã de Hit-Girl e do personagem que dá nome ao filme, Kick-Ass, e para quem tem sangue nerd correndo nas veias.
Kick-Ass 2, como o número dois no título deixa claro, é a continuação do longa homônimo que conta a história de um adolescente (Aaron Taylor-Johnson) que resolve colocar uma máscara, vira o super-herói Kick-Ass e começa a combater o crime. Agora ele, juntamente com a prodígio Mind Macready/Hit-Girl (Chloë Grace Moretz) tem que lidar com as consequências de seu ato do primeiro filme.
O enredo do filme é bem simples e este é assim de forma proposital. O foco não é em uma história elaborada e sim no desenvolvimento dos personagens já apresentados muito bem no primeiro longa. Isto acaba transparecendo bem no começo do filme, desenvolvido de forma bem lenta sem as lutas esperadas pelos fãs da série e se mostrando direcionado para quem já está familiarizado com o aquele universo. Tudo isto acaba sendo um ponto negativo para quem não conhece previamente a história ou não viu o primeiro título, que pode ficar sem entender bem o que está acontecendo ali – se bem que eu me pergunto o que diabos uma pessoa que não viu determinado filme está fazendo assistindo a sua continuação.
Como eu disse antes, o foco do filme está no desenvolvimento dos personagens. Por mais que seja legal andar pelas ruas vestido de super-herói e ser reconhecido por isso, agora existem as indagações de até que ponto tudo aquilo vale a pena. A dupla de personagens principais passa, agora, por dúvidas ordinárias que assolam pessoas comuns. Como se encaixar e ser querido por todos, mesmo que isto não seja o que você realmente anseia? Será que vale à pena bancar o super-herói diariamente? Qual seria a consequência disso para as pessoas que estão ao seu redor?
A frase dita por Kick-Ass na batalha final contra Motherfucker sintetiza bem isso: “Isto não é uma HQ, é a vida real”
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Como no filme anterior, a personagem Hit-Girl merece todo o destaque. Mesmo com poucas lutas durante o filme, se destaca tentando fazer parte da turma das patricinhas da escola no melhor estilo As Patricinhas de Beverly Hills. O crescimento da atriz Chloë Grace Moretz é retratado diretamente na personagem que está com os hormônios à flor da pele. E quando Hit-Girl resolve descer a porrada, o espetáculo é garantido.
Até durante a apresentação de dança na escola ela improvisa uma bela sequência de luta imaginária – Poomsae para os taekwondistas, kata para os caratecas - provando que o sangue de combatente do mal nunca saiu das suas veias
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A gangue do mal liderada por Mutherfucker (Christopher Mintz-Plasse) também merece destaque. Misturando um humor tosco, meio ácido, com muita violência e sangue, ela consegue prender a atenção do espectador e conquista a simpatia deste. Críticas bem diretas são feitas e o fato de não precisar ler nas entrelinhas para entendê-las não tira a graça da situação. Não é toda hora que vemos um vilão declarado, que tem consciência da sua falta de habilidade e começa a usar a arma mais poderosa que existe para atingir seus objetivos: o dinheiro. E ele só quer destruir a cidade porque ele é um super-vilão. Nenhuma outra motivação espetacular, o que torna a situação ainda mais legal. E o grupo que Motherfucker consegue montar é bem legal, sendo responsável por excelentes momentos do filme.
A apresentação dos membros feita em desenho ficou muito boa, bem como as piadas politicamente incorretas para escolha do nome de cada um, com Javier (John Leguizamo, o eterno Peste!), o segurança da família, não se cansando de falar que o patrão só faz correlações preconceituosas. Mother Russia, aliás, não apenas é a melhor piadinha de escolha de nome, como também é um dos personagens mais interessantes do filme. Insana como a própria Rússia que o youtube acabou por criar, tem todos os atributos para aparecer em um possível terceiro episódio
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Uma grata surpresa no filme é a presença de Jim Carrey no papel de Coronel Estrelas e Listras. Apesar de toda a comédia de Kick-Ass, o Coronel é um personagem bastante sério – não que eu não goste das caras e caretas de Jim Carrey, muito pelo contrário! – acabando por destoar um pouco do seu bando. Já Aaron Taylor-Johnson tem uma atuação simples, apesar de ter em mãos o personagem principal do filme. E como não gostar de Christopher Mintz-Plasse, a.k.a. McLovin? O seu eterno jeito de bobo sempre irá me tirar boas gargalhadas.
Kick-Ass 2 possui três pilares que o sustentam muito bem: as referências ao mundo pop, a trilha sonora e as cenas de luta. São três pontos que tiram o filme do marasmo e o torna muito divertido. As referências estão lá e para todos os gostos.
Se você curte MMA, tem Chuck Liddell treinando Mutherfucker. Curte mais uma época medieval? Tem piadinha com Gandalf e pessoas de idade avançada. Curte mais cantores andrógenos? Tem tiração de sarro com Justin Bieber e com Union J. Seu negócio é quadrinhos? Stan Lee e momento Watchmen com máscaras de super-heróis proibidas pela cidade para você! E para você que é fã das redes sociais e não vive sem seus seguidores e suas curtidas, também tem referência. Mutherfucker conseguiu 1000 seguidores em apenas três dias no Twitter. Será que você consegue também?
. A trilha sonora, mais uma vez, merece todo o destaque. Não é tão espetacular quanto a do primeiro filme – até hoje eu a escuto muito, com músicas como Oman do Prodigy, An American Trilogy do rei Elvis e uma versão irada de Bad Reputation do The Hit Girls – mas se encaixa perfeitamente com a trama. Destaque para uma versão na guitarra do tema de Tetris e da versão com sotaque gringo de A Minha Menina. Mais uma soundtrack pra minha coleção, sem dúvida. Por último, as cenas de luta são de cair o queixo. Bem coreografadas, sangue na medida certa e a música de fundo acompanhando tudo de forma perfeita.
Kick-Ass 2 é, como seu antecessor, um filme para nerds. Repleto de referências que apenas serão bem compreendidas por quem está imerso na cultura pop atual, é um filme que irá agradar em cheio este nicho do mercado cinematográfico. Caso você não seja tão fã assim, não conseguirá entender todas as nuances que envolvem o universo de Kick-Ass. Por isso nem se dê ao trabalho de ir ao cinema; você sairá de lá achando que acabou de ver um filme bobo de uma menininha mascarada e violenta.
E tem cena extra após todos os créditos!