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    Meia Noite Em Paris
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Meia Noite Em Paris

    Sempre teremos Paris

    por Lucas Salgado

    Ahhh Paris... Nunca dancei às margens do Sena como Woody Allen e Goldie Hawn em Todos Dizem Eu Te Amo, nem fiz o passeio de barco pelo mesmo rio como em Antes do Pôr-do-Sol. Tampouco corri pelos corredores do Louvre como em Banda à Parte. Não fiz nada disso pessoalmente, mas vi tudo isso acontecer através das lentes de grandes cineastas. Cinderela em Paris">. Não fiz nada disso pessoalmente, mas vi tudo isso acontecer através das lentes de grandes cineastas. Cinderela em Paris, Último Tango em Paris, Sinfonia de Paris, O Boulevard do Crime, Bonecas Russas, Ratatouille, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e Os Sonhadores são apenas alguns de incontáveis filmes passados na cidade, que como podem ver, já deu muito ao universo da sétima arte. Pois bem, agora é a vez do cinema dar algo em troca. Com Meia Noite em Paris, Woody Allen compõe uma ode de amor à Cidade Luz, fazendo o que 22 diretores tentaram com Paris, Te Amo, que consegue ser bem intencionado e simpático, mas nunca brilhante.

    Diretor de obras primas como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e A Rosa Púrpura do Cairo, Allen sempre foi um apaixonado pela França. Apresentou muitas vezes seus longas no Festival de Cannes e sempre que possível afirma que é mais reconhecido artisticamente no país do que nos Estados Unidos, algo que tratou de incluir no roteiro de Dirigindo no Escuro.

    Woody Allen muitas vezes é criticado por ter caído em um lugar comum ou por estar em decadência, mas é muito injusto atribuirmos tais coisas a um cineasta que nos últimos dez anos fez pelo menos três filmes marcantes (Ponto Final - Match Point, Vicky Cristina Barcelona e Meia Noite em Paris). O diretor sempre "vendeu" Nova York de uma forma romantizada e em certos momentos lúdica, e serviu de guia turístico por Barcelona em Vicky Cristina, mas é neste novo longa que se sai melhor em capturar a essência de uma cidade. Na verdade, a Paris de Allen pode nem ser a Paris real, mas é a dos apaixonados.

    Meia Noite em Paris conta a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista famoso em Hollywood que viaja à Paris com a noiva (Rachel McAdams) para acompanhar os pais desta em uma viagem de negócios. Apesar de bem sucedido no mundo do cinema, Gil sonha em ser escritor e prepara seu primeiro romance. Apaixonado pela Cidade Luz, ele idealiza largar tudo e mudar para a cidade, mas sabe que está mais próximo de voltar para os Estados Unidos e viver uma vida vazia em Malibu.

    O argumento da produção foi desenvolvido para gerar uma discrepância entre as imagens da França e dos Estados Unidos e tudo no longa conspira para "jogar para cima" a imagem do país europeu. Um bom exemplo disso são os personagens de McAdams e Michael Sheen. A primeira interpreta Inez, noiva do protagonista, uma jovem superficial e tipicamente americana, que é menos interessante do que as personagens de Carla Bruni, Léa Seydoux e, principalmente, Marion Cotillard (absolutamente deslumbrante). Já Sheen interpreta o tipo pedante, conhecedor de arte, vinhos e tudo mais.

    Owen Wilson é o Woody Allen da vez - papel que nos últimos anos já foi de Will Ferrell, Jason Biggs e Larry David - mas é preciso reconhecer que por mais que seja um alterego do diretor, o ator se sai muito bem, sendo responsável direto por despertar o interesse do espectador na trama.

    Midnight in Paris (no original) apresenta mais do que uma visão romantizada de Paris, criando um ambiente em que tudo é bem aceito pelo espectador. Para isso utiliza-se de uma trilha sonora que une o jazz padrão dos filmes do cineasta com canções de lendas da música, com destaque para Cole Porter. Allen sempre foi um diretor chegado em referências à nomes da música, pintura, cinema etc, mas nunca tinha ido tão a fundo nas mesmas como nesta nova produção. Na verdade, ele vai tão longe numa ideia que chega perto de se perder, o que não acontece justamente por causa do ótimo roteiro e das atuações marcantes do elenco.

    O iraniano Darius Khondji (Seven - Os Sete Crimes Capitais) foi o responsável pela direção de fotografia da produção e se saiu muito bem ao capturar as belezas da capital francesa e seu próprio clima, sem a frieza de Londres ou a "caliencia" de Barcelona. Em determinado momento do filme, os personagens de Wilson e Cotillard se questionam se a cidade seria mais bonita de dia ou de noite. A cinematografia de Khondji apresenta Paris em seus dois momentos, como se quisesse que o espectador decidisse por conta própria qual seria o cenário mais bonito. O mais provável, no entanto, é que este fique com a mesma dúvida.

    Há quase 70 anos, num aeroporto em Casablanca, Humphrey Bogart olhou nos olhos de Ingrid Bergman e disse: "Nós sempre teremos Paris". Fã do clássico de 1942 e de Bogart - tanto que o incluiu como personagem em Sonhos de um Sedutor - Allen parece ter aproveitado Meia Noite em Paris justamente para mostrar ao mundo um pouco daquela cidade usada como sinônimo de beleza e felicidade.

    Observação: como já devem ter observado, as críticas no Adoro Cinema são geralmente acompanhadas pela imagem do cartaz nacional do filme em análise. Mas como uma espécie de protesto prefiro destacar a imagem belíssima do pôster internacional, que conta com Owen Wilson passeando por uma Paris mesclada com os traços de "A Noite Estrelada", clássica pintura de Van Gogh. O cartaz brasileiro, por sua vez, conta com Wilson e McAdams em uma cena de beijo em um cenário genérico, que pode ser Paris, mas também pode ser Nova York, Rio de Janeiro, Sidney ou qualquer outra cidade que tenha um jardim botânico decente. É lamentável a tentativa de vender a produção como uma comédiazinha romântica.

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