Crise de Identidade
por Francisco RussoJohn Singleton despontou no cinema há exatos 20 anos atrás, com Os Donos da Rua. Seguidor de Spike Lee, usou seus filmes para tratar questões sociais envolvendo a população negra, como em Duro Aprendizado e O Massacre de Rosewood. Entretanto, já há alguns anos Singleton mudou de rumo. Deixou de lado a denúncia e se aproximou cada vez mais do cinema pipoca. O ápice desta transformação vem com Sem Saída, um filme absolutamente banal onde não há o menor traço de identidade do diretor que tanto impressionou no início da carreira.
Sem Saída na verdade é uma mera desculpa para promover Taylor Lautner ao papel de astro principal. O problema é que o Jacob da saga Crepúsculo não está pronto para tanto. Até possui a vitalidade física necessária para um filme de ação, mas não tem o carisma nem qualidades como ator para segurar sozinho o longa-metragem. O mesmo vale para seu par em cena, Lily Collins, tão artificial quanto ele. Para contrabalançar, os produtores escalaram para papéis coadjuvantes atores de renome que não estão no auge de suas carreiras, como Sigourney Weaver, Alfred Molina, Jason Isaacs e Maria Bello. Todos batem o ponto em cena, cumprindo suas obrigações de forma apenas correta. Alguns inclusive com participações bem pequenas, apesar de importantes para a trama.
A história é focada em Nathan (Lautner), adolescente típico que enfrenta dificuldades para controlar os acessos de fúria rotineiros. Um dia, ao fazer um trabalho do colégio ao lado da vizinha e paixão secreta Karen (Collins), ele encontra sua foto mais jovem em um site de crianças desaparecidas. É a chave para algo que estava nítido a olho nu: Nathan não era filho biológico de seus pais (Isaacs e Bello). A esperada conversa esclarecedora sobre o ocorrido logo é interrompida por uma invasão à sua casa, que vai pelos ares. Antes disto, os pais de Nathan são mortos. Ele e Karen partem em uma fuga desesperada, sem saber em quem confiar e seguidos tanto pela CIA quanto por um agente secreto sérvio.
Complicado? Nem tanto, já que o roteiro da dupla Shawn Christensen e Jeffrey Nachmanoff apresenta de forma rápida a rocambolesca explicação do porquê da perseguição a Nathan, de forma que o espectador não tenha tempo para pensar no quão estranha ela é. O que importa mesmo são as cenas de ação e isto o filme tem aos montes. O problema é que, mais uma vez, soam artificiais pela forma que acontecem, em vários casos fugindo da coerência da própria história.
Sem Saída é um filme fraco, que desaponta não apenas dentro do gênero ação mas também pelos nomes envolvidos. Nem tanto por Taylor Lautner e Lily Collins, ambos ainda em início de carreira e com muito a aprender (ou não), ou pelos coadjuvantes, que não se esforçam muito até mesmo porque o filme não lhes exige tanto. Desaponta principalmente por John Singleton, um diretor incisivo que parece ter optado pelo caminho fácil na carreira. Não devido à opção pelo entretenimento, mas pela perda daquilo que era seu grande diferencial como profissional de cinema. O atual diretor em nada lembra aquele de vinte anos atrás, o que o torna apenas mais um dentre tantos outros que trabalham na área.