Cidade Maravilhosa do Crime
por Francisco RussoO sucesso da série Velozes & Furiosos tem muito a ver com a junção de boas cenas de ação e carros envenenados. Vin Diesel e Paul Walker ajudam pela atração provocada pelo astro – não foi à toa que o terceiro filme da série, sem ambos, foi o de pior desempenho comercial. Em Velozes & Furiosos 5 a dupla vem para o Rio de Janeiro, disposta a aproveitar as belas paisagens da cidade maravilhosa em imagens panorâmicas feitas para gringo ver. Mas se esqueceram do primordial: as cenas de pega tradicionais da série, que aparecem em doses homeopáticas.
O quinto filme começa exatamente no mesmo ponto em que Velozes & Furiosos 4 termina: Dominic Toretto (Diesel) indo para a prisão e sendo salvo pelos parceiros em seus carros turbinados. A cena, indicada no desfecho do longa anterior, aqui é mostrada na íntegra e merece destaque pela impressionante capotagem de um ônibus, onde peças voam para todos os lados. Mesmo sabendo que boa parte foi feito graças aos efeitos especiais, impressiona.
A história logo salta para uma favela carioca, onde Brian (Walker) e Mia (Jordana Brewster) encontram um velho conhecido. É o batido clichê de que os bandidos vêm se refugiar no Rio de Janeiro, impulsionado pela famosa história verídica de Ronald Biggs. Só que, agora, tudo ganha proporções maiores. A cidade é dominada por Hernan Reis (Joaquim de Almeida) que, como é dito no filme, “controla tudo o que há de ilegal”. Até mesmo a polícia está em seu bolso, em sua totalidade. Ou seja, o Rio de Janeiro é um antro absoluto de desonestidade, com muitos bandidos e nenhum mocinho.
Ok, por mais que a cidade não seja tão maravilhosa assim na realidade, o filme a pinta de forma extremamente exagerada e tendenciosa. Tudo para facilitar o roteiro, afinal de contas é mais simples generalizar do que trazer à tona a pluralidade existente. E, além do mais, Hollywood não está preocupada em ser justa com o que está além de seu nariz. Há inúmeros casos de filmes que abusam do estereótipo para contar uma história. A diferença é que, desta vez, somos o alvo e, por conseguirmos identificar tão claramente estas falhas, fica mais evidenciado como funciona o mecanismo dos filmes que prezam a ação em detrimento do roteiro.
O grande problema de Velozes & Furiosos 5 não está na caracterização do Rio nem nos absurdos geográficos apresentados – a maioria das filmagens não aconteceu no Brasil, mas na Costa Rica e em Porto Rico. A falha maior é o roteiro, repleto de furos que não explicam certas passagens da história e que faz com que o filme deixe de lado as tradicionais corridas, ponto forte da série, para apostar em uma trama de assalto ao estilo de Onze Homens e um Segredo. Velozes & Furiosos 5 ganha ainda ares de Máquina Mortífera 4 quando insiste na criação de uma família, com a gravidez de Mia e a reunião de integrantes de todos os filmes da série. Tudo para dar a Toretto e sua trupe ares de “bons bandidos”, mesmo que não roubem para dar aos outros e sim para aproveitar o dinheiro ao seu bel prazer.
Ao som de bastante hip hop e alguns funks nacionais – é possível ouvir “vem, popozuda!” como largada para um pega -, Velozes & Furiosos 5 ainda se torna uma espécie de filme catástrofe no final, com a espetaculosa fuga de Toretto e Brian carregando um cofre. Bem feita, mas não apaga os erros anteriores. Destaque negativo para a cena do banheiro, com uma piada escatológica que não combina com o restante do filme, e a luta de brutamontes entre Vin Diesel e Dwayne Johnson. Ela é tão exagerada que até mesmo o cavanhaque do eterno The Rock sua. O pior filme da série, sem pensar duas vezes.