<p>Morte anunciada<br />
por Roberto CunhaO ator Liam Neeson vem experimentando um momento especial na carreira. Fazendo valer a máxima dos apreciadores de vinhos e uísques, que valorizam a "maturidade", tem se mostrado versátil, capaz de envergar personagens densos ou de pura ação, caso de Busca Implacável, sucesso de 2008.
Já tendo trabalhado com ele na boa aventura Esquadrão Classe A (2010), o diretor Joe Carnahan repete a parceria em A Perseguição. A diferença, porém, é que um título não tem nada a ver com o outro e tentar vendê-lo como um exemplar de ação (para pegar carona em outros) é uma certa maldade. Escrito, dirigido e produzido por Carnahan (com o auxílio luxuoso de Tony Scott), esta aventura tem drama, mas essa divisão entre uma coisa e outra pode deixar muita gente "perdida" no meio do caminho.
No longa, Neeson dá vida à Ottway, um cara cuja função é manter os animais selvagens longe dos funcionários da empresa onde trabalham no Alasca. Quando ele e um grupo retornavam para a civilização, o avião cai e deixa os sobreviventes à mercê de uma alcateia de lobos. Isolados do mundo, desnecessário dizer que começa aí uma odisseia no melhor estilo "quantos sobreviverão".
Com belas locações, boa fotografia e trilha sonora coesa, o problema mesmo reside no roteiro, baseado em um conto. Conduzida com eficiência pelo protagonista, a trama segue os percalços das vítimas da agonia de se encontrar fragilizado no meio do nada, sem perspectivas de salvação e ameaçado pela força da natureza. Frio, liderança, discórdia, sangue, medo, amor, fé, não faltam conflitos nesta história de desesperança. A maneira como foi apresentada, porém, é que inviabiliza um envolvimento maior do espectador mais exigente.
Outra mancada foi "humanizar" demais os lobos nas reações contra "o invasor". As licenças para mover o enredo oscilam entre o previsível, nos enfrentamentos (chegam a ser bobos os uivos ou olhos lupinos no escuro), e o absurdo. A sequência da travessia do penhasco, por exemplo, tem doses de tensão, mas a criação da super "teresa" (corda com roupas) e a existência do inimigo do outro lado revelam-se forçados demais. Como um rio calmo que, providencialmente, torna-se caudaloso.
Embora tenha se saído bem ao roteirizar o drama criminal Narc (2002), Carnahan já falhou nessa tarefa, apresentando (para muitos) um confuso A Última Cartada (2006) e um sofrível Força Policial (2008). Essa dificuldade ou até insistência em querer equilibrar gêneros faz com que sua filmografia siga irregular e, principalmente, sem conseguir estabelecer um padrão de comunicação com o público, resultando em pouca produtividade. Tendo estreado em 1998 com a desconhecida comédia de ação Blood, Guts, Bullets and Octane, este de agora é o seu sexto longa.
Entre as curiosidades de A Perseguição, a oportuna citação do clássico Os Sobreviventes dos Andes (1976) e uma piadinha com o emblemático seriado McGyver (1985-1992). Para os que buscam um filme de ação, vale o aviso de que todo cuidado é pouco. Mas nem tudo está perdido para quem procura um longa que persegue maiores reflexões sem, no entanto, entregá-las plenamente. Pena, pois trata-se de uma legítima crônica da morte anunciada.