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    O Chamado 3
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    O Chamado 3

    A origem de Samara — outra vez

    por Rodrigo Torres

    O Chamado iniciou, em 2002, uma breve e distinta onda de remakes de filmes de horror japoneses. A curta duração dessa tendência deveu-se ao completo desperdício do que poderia ter sido um intercâmbio frutífero. Hollywood não fez mais que versões genéricas dos originais, até mesmo no caso da (comercialmente) bem-sucedida refilmagem de Gore Verbinski — que, quando não segue à risca o roteiro de Ring, acrescenta floreios narrativos que mais desviam a atenção do espectador do que agridem os seus nervos. Este problema se acentuou em O Chamado 2. Doze anos se passaram e nada mudou em O Chamado 3.

    Nada mesmo. A mudança de tom sugerida na cena de abertura de O Chamado 3 (divulgada durante a semana) se resume ao prólogo. E isso deveria ser bom, pois a sequência de ação destoa da franquia e não possui identidade. O problema é que todo o resto também é preguiçoso e se mostra repetitivo em relação à franquia. A premissa de uma subcultura e do professor (vivido por Johnny Galecki) que estuda o fenômeno Samara servem apenas para desencadear as mortes em série, e o roteiro assinado pelo experiente Akiva Goldsman (ao lado de Jacob Estes e David Loucka) cai na mesma armadilha de O Chamado 2: ser tão parecido com seu antecessor, se impondo a criação de elementos para que, enfim, se pareça uma continuação, não mera refilmagem.

    O insosso casal Julia (Matilda Lutz) e Holt (Alex Roe) repete o ciclo de assistir ao vídeo maldito (ela, pelo motivo mais besta e brega), buscar informações sobre a maldição e tentar revertê-la antes do sétimo dia. Outra vez, se descobre um aspecto trágico da vida de Samara. Outra vez, o segredo recai sobre um genitor da menina bizarra. E, outra vez, o excesso de explicações de um roteiro pretensamente complexo (na prática, apenas pouco envolvente e plausível) se impõe sobre a sutileza de se criar uma atmosfera de medo e suspense reais — que é como se constrói o bom cinema de horror psicológico sobrenatural.

    O prejuízo maior dessa "gordura" reflete no clima e no ritmo de O Chamado 3. Isso condena o diretor F. Javier Gutiérrez e equipe a lançar os mais reles truques narrativos do gênero, como aumento repentino de trilha sonora e o clichê máximo do cachorro latindo em close para provocar sustos fáceis. Devido a tal falta de criatividade, mínima autoria, algumas cenas remontam a similares, como Premonição e O Homem nas Trevas — sem jamais soar como boa referência, até por expressar e provocar distração. O efeito se repete, involuntariamente, quando Samara revela novos poderes (como, também por conveniência e sem sucesso, fez ao possuir um personagem em O Chamado 2).

    Hideo Nakata criou Ring - O Chamado a partir de um conceito, construiu uma trama ao redor que lhe desse sentido, deixou questões em aberto quando pertinente — tudo em prol do terror. A partir dessa construção eficiente de mistério, ainda suscitou discussões de âmbito familiar, psicológico, tecnológico e sobre a modernidade frente às tradições japonesas. Duas décadas depois, a franquia genérica norte-americana é incapaz de provocar eficientemente qualquer desses aspectos, sejam sustos ou reflexões, apenas explorando uma marca ao nível de exigência mais baixo. Outra vez.

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