Bridget Jones está mais madura. Ou não. (Ufa!)
por Renato HermsdorffBridget Jones está de volta! E do mesmo jeitinho que nos deixou nos cinemas há mais de uma década. Bem, como é sabido, não exatamente. Mas, se a aparência de Renée Zellweger não é mais a mesma (o que não tem necessariamente a ver com o processo natural de envelhecimento, mas com os procedimentos cirúrgicos depois que a atriz reapareceu praticamente irreconhecível – e nem está tão grave assim), a personagem continua deliciosamente desajustada e ainda mais doente de uma incontrolável incontinência verbal.
Passados os acontecimentos de Bridget Jones: No Limite da Razão (2004), a inglesa, agora aos 43 anos, se encontra estável em seu emprego como produtora de um canal TV. Mas... como certas coisas nunca mudam (e, convenhamos, é de Bridget Jones que estamos falando), ela continua solteira (e, óbvio, mais velha). Para dar uma chacoalhada na rotina (e, por que não, na idade?), ela aceita o convite de uma amiga de trabalho para curtir um festival de música.
No tal Woodstock (se você tiver menos de 30, leia Lollapalooza como referência), ela conhece Jack Qwant (Patrick Dempsey), um quarentão sedutor que, depois de uma bebedeira da protagonista, a encontra nua em sua própria barraca. Corta para uma festa de batizado em que ela reencontra Mark (Colin Firth), e eles acabam se reaproximando – no sentido bíblico mesmo. Não tarda para que ela se encontre grávida. E, claro, sem saber quem é o pai dO Bebê de Bridget Jones.
Mas e Daniel Cleaver, o mulherengo interpretado por Hugh Grant, que tanto atazanou a criatura nos filmes anteriores? Depois da recusa do ator em reprisar o papel, a maneira de inseri-lo na trama foi vesti-lo logo com um paletó de defunto – e, antes que nos acusem de revelar spoiler, saibam que a primeira cena do filme se passa no velório do rapaz. Uma boa solução, porque, de cara, já é possível matar as saudades de Jones, sarcástica como de costume na ocasião da despedida.
Mas ele faz falta? Sim. Não exatamente por causa de Daniel, em si, mas pelo que o tipo representava. Isso porque tanto Jack, o senhor perfeição, quanto Mark, o amor que não se esquece, se revelam opções igualmente lucrativas para a anti-heroina. E, se tanto faz com quem ela vai ficar, ou seja, se não há exatamente um conflito, o espectador pode se desinteressar.
Se a obra da escritora Helen Fielding (e os livros nos quais os filmes se baseiam) virou uma espécie de patrimônio imaterial do Reino Unido, a produção dirigida por Sharon Maguire (a mesma de O Diário de Bridget Jones) se aproveita muito bem dessa condição, usando de um tipo de humor irônico muito peculiar e uma trilha sonora repleta de ícones pop da contemporaneidade, como Ed Sheeran – que faz até uma participação no filme – e Lily Allen.
Claro, é possível notar os truques do roteiro, nem sempre bem-sucedidos. Um exemplo é a entrada da nova chefe hipster jovem de Bridget, situação que visa a problematizar a questão da idade da personagem, mas o papel é praticamente esquecido ao longo da projeção; ou então o fato de que Bridget, como uma profissional da mídia, desconheça que Jack seja um yuppie (velho?) famoso criador de um site de relacionamentos – artifício que cumpre a função de “surpreender” a protagonista e,
consequentemente o espectador.
Mas o texto é compensado com diálogos afiadíssimos – e pela entrada de Emma Thompson (ela mesma, no rol do patrimônio cultural britânico) como a médica da futura mãe. Hilária. Thompson, inclusive, assina o roteiro ao lado da autora da obra original e de Dan Mazer (Borat).
O Bebê pode não ter o frescor de O Diário, mas certamente é um esforço mais honesto – e humano – de atualizar a fase em questão da vida da personagem, principalmente em comparação com o show de ciumeira de No Limite da Razão. Bridget Jones está mais madura. Ou não. (Ufa!)