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    O Espião Que Sabia Demais
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    O Espião Que Sabia Demais

    ESPIONAGEM DE PRIMEIRA

    por Lucas Salgado

    A Identidade Bourne trouxe muita coisa boa para o cinema de ação, como a edição frenética e a fotografia fria, mas acabou passando a impressão de que não poderia se fazer um filme de espionagem de outra forma, como comprovou o rumo dado à franquia de James Bond em 007 - Cassino Royale. Felizmente, O Espião que Sabia Demais surge para provar que ainda é possível adotar um visual mais clássico e ainda assim ser bem sucedido.

    Com uma atuação marcante de Gary Oldman, a produção se passa em 1973, em plena Guerra Fria. A história gira em torno de George Smiley (Oldman), um veterano da divisão de elite do serviço secreto inglês conhecida como Circo. Após a morte de seu ex-chefe Control (John Hurt) e de alguns fracassos em missões no exterior, é chamado para desvendar um mistério sobre a identidade do agente duplo que trabalha também para os soviéticos.

    A trama parece simples, mas este não é o caso. A narrativa é complexa e exige raciocínio do espectador, com cada um dos possíveis agentes duplos recebendo um codinome diferente (os tais Tinker, Tailor, Soldier e Spy do título original). Além disso, as idas e vindas temporais fazem com que a pessoa que assiste ao filme precise prestar atenção durante todo momento.

    A dupla Oldman e Hurt está excelente, deixando claro que o trabalho de espião também cabe às pessoas com rugas no rosto e não apenas para sex symbols que partem para a briga como Daniel Craig e Matt Damon.

    O longa conta com um elenco extraordinário, que traz ainda as presenças de Mark Strong, Colin Firth, Tom Hardy, Toby Jones, Ciarán Hinds e Benedict Cumberbatch, com destaque especial para os dois primeiros. Strong mostra que possui talento suficiente para deixar de ser visto por Hollywood como "aquele sujeito que tem cara de vilão", algo que lhe rendeu bons, mas semelhantes, papéis em Sherlock Holmes, Kick Ass - Quebrando Tudo e Lanterna Verde. Já Firth mostra que sua evolução como ator veio para ficar após Direito de Amar e, é claro, O Discurso do Rei. Ele dá vida a um sujeito meio tímido, mas que ao mesmo tempo é muito seguro, inclusive com relação a sua sexualidade.

    Responsável pelo terror/suspense/romance sueco Deixa Ela Entrar, o diretor Tomas Alfredson reafirma todo o seu talento em O Espião que Sabia Demais, mostrando que o projeto anterior não tinha sido apenas uma jogada de sorte. Ele retoma a parceria com o diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema, que realiza um trabalho digno de aplausos. Utilizando-se de uma imagem muito granulada, a fotografia é o grande ponto alto da produção, ajudando na construção do clima e também na força da história. Consegue passar uma ambientação fria e escura sem cair no noir. Curiosamente, o clima lembra um pouco a Inglaterra retratada por César Charlone em O Jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles. Os dois longas são baseados em livros do cultuado escritor John Le Carré.

    Escrito a quatro mãos por Peter Straughan (Os Homens que Encaravam Cabras) e Bridget O'Connor, que faleceu em 2010, o filme é quase que uma adaptação de um jogo de xadrez e, até por isso, faz questão de explorar todas as peças do tabuleiro, sem perder tempo em perseguições desnecessárias ou romances sórdidos, embora traga uma relação amorosa de importância significativa na trama. A partida de xadrez também é auxiliada pelo belíssimo trabalho de edição de Dino Jonsäter, que também fez parte da equipe de Deixa Ela Entrar.

    Tudo em Tinker Tailor Soldier Spy colide para gerar um dos melhores filmes de espionagem nos últimos anos. Além da direção, do elenco, do roteiro e da fotografia, que já foram destacados, cabe ressaltar a importância da trilha sonora de Alberto Iglesias, que realiza um trabalho bem diferente do que geralmente entrega em suas parcerias com Pedro Almodóvar em obras como Abraços Partidos e Volver.

    É curioso como a sobriedade com a qual o filme é retratado através de seu figurino e da direção de arte colabora para a construção de narrativa permanentemente tensa. Tudo é frio e cinza. Ainda sim, tudo é belo e cativante, ao menos para o espectador.

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