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    Aliança Do Crime
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Aliança Do Crime

    A volta do que não foi

    por Renato Hermsdorff

    Vamos ao que interessa: depois de amargar quatro fracassos comerciais como protagonista recentemente (Mortdecai - A Arte da Trapaça; Transcendence - A Revolução; O Cavaleiro Solitário; Diário de um Jornalista Bêbado), com Aliança do Crime, Johnny Depp entrega a melhor atuação da carreira desde Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007) – que lhe valeu a terceira e última indicação ao Oscar da carreira até aqui.

    Quando foi escalado para o papel do criminoso James "Whitey" Bulger – um dos mais conhecidos da história de Boston, nos Estados Unidos, atuando a partir de meados dos anos 1970 –, o fato despertou a desconfiança dos norte-americanos, porque Depp não teria o physique du role necessário para o papel, afinal, Bulger era conhecido também por ser... feio. Daí, a necessidade da caracterização, que envolve um (não) aplique capilar (o retratado era careca), dentes manchados e lentes de contato.

    A pesada maquiagem distrai o espectador da performance do ator de Piratas do Caribe, mas ele adota um jeito manso de falar, combinado com um olhar duro de fazer tremer o valentão mais metido a besta do bairro. E não é tiro, porrada (bem, porrada também) ou bomba que vai fazer você temer o personagem. Mas principalmente a maneira como ele educa o filho; como questiona a ausência da esposa do amigo na mesa de jantar; ou a forma como reage quando um parceiro revela o segredo de uma receita de família. Não faltam bons exemplos de cenas do cotidiano que servem para descrever, com sutileza, o caráter do anti-herói. Contribui também o fato deste ser um papel mais adulto do que aqueles que o ator encarnou nos últimos anos. 

    Aliança do Crime traz uma dessas histórias de gângster (embora o personagem se recuse a ser tratado como tal) – violenta como a vida (na época e local) devia ser – típica dos filmes que consagraram o gênero. Uma dessas histórias mesmo. Porque não há nenhum aspecto em especial que diferencie essa das conhecidas tramas de mafiosos no cinema: um líder temido, seguido por um séquito de bunda-mole, faz uma aliança com a polícia – e tudo isso é contado de trás pra frente (ou seja, por meio de flashback).

    Baseado no livro homônimo escrito por Dick Lehr e Gerard O'Neill, Whitey Bulger, irmão do senador Bill Bulger (Benedict Cumberbatch), foi um mafioso que atuou no submundo da violenta Boston nos anos 1970/ 1980 (o líder). Ele foi criado nas mesmas ruas que John Connelly (Joel Edgerton), futuro agente do FBI que irá propor uma... aliança (olha aí), uma espécie de delação premiada adiantada, com o fora da lei.

    Contemplando um período que dura cerca de três décadas (e duas horas de projeção), Black Mass (no original) elenca uma penca de atores renomados/ em ascensão de Hollywood nos créditos: Kevin Bacon, Dakota Johnson, Corey Stoll, Peter Sarsgaard, Adam Scott, Juno Temple, entre outros. Porém, dado o extenso período e um extensivo número de reviravoltas, a maioria passa subaproveitada pelo roteiro.

    Sobra para Edgerton dividir o protagonismo com Depp. E a verdade é que o ator de Êxodo: Deuses e Reis sobra. Apesar de Johnny Depp ter o papel mais... excêntrico – dada a caracterização física do personagem – é o agente Connelly quem sofre a maior transformação psicológica (ou moral), motivo pelo qual o papel exige, em última análise, mais de seu intérprete. Mérito, em primeira instância, do roteiro, claro, mas que não se sustentaria se não houvesse um ator à altura. E esse cara é Joel.

    Filme visto no 40º Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2015.

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