PAULEIRA PURA
por Roberto CunhaNão é todo filme que estreia cercado de polêmica ou expectativa. Quando ela é positiva, periga o crítico ser tendencioso ou se decepcionar. Se negativa, podem até pintar surpresas. Os Mercenários chega seguido de uma declaração (imperdoável) de seu diretor, Sylvester Stallone, sobre o Brasil. Apesar da torcida para que fosse um tremendo mico, a crítica que você vai ler (se tiver na disposição) não vai poder trucidar o filme porque, dentro da proposta, até que ele é legal.
Na história, um grupo liderado pelo personagem de Stallone é recrutado para salvar um pequeno país das mãos de um ditador e um vilão (o eterno Eric Roberts) que tocam o terror, o tráfico de drogas, e ainda entristecem uma mocinha (!) idealista (Giselle Itiê).
Tá bom que o roteiro é fraco, mas não tem como negar a presença de elementos clássicos dos filmes de ação dos anos 80/90. Sem contar que com a premissa inédita de reunir atores/ícones, a produção apresenta Jet Li, Jason Statham, Dolph Lundgren, Mickey Rourke, e ainda Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis. Senti falta "apenas" de Chuck Norris, Jean-Claude Van Damme e Steven Seagal com seu indefectível rabinho de cavalo. (risos)
De qualquer forma, só este encontro já foi legal. E embora a reunião do trio de rugas (Sly, Willis e Arnie) seja pequena, ela é antológica e revela uma característica do filme: o deboche. Salvo algum erro de visão e audição do autor destas mal traçadas linhas, o longa é debochado pacas. Ajuda a explicar o infeliz comentário do diretor na entrevista.
Afinal, o que dizer de um avião disfarçado de entidade ecológica cujo símbolo é um corvo sobre o mundo?!? Nos diálogos, o escárnio é constante e, curiosamente, misturam vida real e ficção. No tal encontro dos três, o personagem de Sly se refere ao de Arnie dizendo "éramos do mesmo time" e o outro retruca "ele gosta de selva", numa clara alusão aos filmes de ação que ambos faziam (separados) em contraponto ao cargo de governador e ao personagem Rambo.
Jet Li foi chamado de baixinho o tempo todo e o dublê de ator e lutador Randy Couture ouviu piadinha sobre a sua "orelha de repolho" e, no final, seu nome foi objeto de trocadilho quando o personagem de Statham brinca com a expressão "call Tool" (Rourke).
Os Mercenários reúne ainda outros caras mais pesados egressos dos ringues como Steve Austin (que protagoniza duelo ímpar com Sly), o brasileiro Rodrigo Minotauro e ainda o ex jogador de futebol americano Terry Crews, entre outros. Para a turma que gosta de ação, o filme é uma porrada já na cena inicial. Aliás, esqueça que a maioria delas aconteça no escuro e lembre-se que são muitas, deliciosamente exageradas e com coreografias criativas, misturando golpes, tiros e facas.
Em termos de previsibilidade o longa é campeão. Tem cena típica como cordão arrancado de pescoço, historinha de amor e de rejeição como pano de fundo com direito a frases de efeito, mas não passa disso. A cena da tatuagem é pra lá de ridícula e dispensável. Por outro lado, o ataque aéreo foi mentiroso, mas sublime. Daqueles que você fica torcendo.
Lógico que vai ter um monte de gente torcendo o nariz (a boca o Stallone já faz) porque Os Mercenários não diz nada. Mas quem busca reflexões de Kafka num filme assim, cá entre nós, está absurdamente equivocado. O título já diz tudo e a música do roqueiro Thin Lizzy complementa, "The boys are back in town", encerrando a "brincadeira" na sala escura. Tem fôlego para uma continuação.