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    A Morte do Demônio
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Morte do Demônio

    Sede de sangue

    por Bruno Carmelo

    As refilmagens de clássicos do cinema sempre chegam às salas com expectativas negativas. Por um lado, paira a impressão de que o empreendimento não teria nenhuma vocação artística, apenas a vontade de aproveitar a fama de outro filme para faturar alguns milhões. Por outro lado, a refilmagem basicamente oferece ao espectador algo que ele não pediu – a nova versão de um produto que o satisfaz muito bem no formato original. Levando esses aspectos em consideração, e com grande consciência do peso de seu material de origem, A Morte do Demônio é um projeto muito bem resolvido.

    Primeiro, o filme tem a bendição e produção de Sam Raimi, diretor de Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio (1981), garantindo a aprovação do novo filme. Segundo, ao invés de tentar recriar os elementos que tornaram o original tão famoso – a produção pequena, de baixo orçamento, os efeitos assumidamente toscos, o humor – o novo diretor Fede Alvarez decidiu tomar a trama do filme original como ponto de partida para uma obra moderna.

    Não apenas pelos efeitos especiais impressionantes, mas pelo uso ostensivo de som e de montagem, esta nova versão nunca poderia ter sido feita 30 anos atrás. Ela funciona como obra independente, e também como refilmagem (ou homenagem) ao original. Além disso, A Morte do Demônio aproveita que as novas gerações já viram muitas imagens de violência para trazer um conteúdo ainda mais gore, repleto de membros cortados, olhos perfurados e vômito escorrendo das bocas.

    Alvarez adotou uma dinâmica de excessos, e não aliviou o tom das imagens para conseguir uma classificação etária mais branda – algo que seria compreensível, já que o público adolescente é o principal consumidor dos slasher movies. Em apenas 90 minutos, ele inflige todos os tipos de dores e torturas aos cinco belos adolescentes, observando com enorme prazer o calvário de cada um. Talvez falte justamente o suspense: não se brinca com a imaginação do espectador; todo indício de uma aparição demoníaca acaba de fato revelando uma aparição demoníaca.

    Mas por preferir ir diretamente ao ponto, o diretor faz uma das obras de terror mais compactas e sucintas do cinema contemporâneo. Se você olhar para os lados em algum momento, terá perdido duas ou três mutilações. Melhor ainda, para manter o espectador concentrado diante de um banho de sangue ininterrupto, o cineasta começa a aumentar o teor das imagens, cada vez mais espetaculares e grandiosas, transcendentais ao limite do religioso (vide a chuva de sangue), até uma conclusão épica, tão monstruosa quanto bela, em que o sangue impregna cada centímetro da tela e vem lavar, ironicamente, a alma de Mia (Jane Levy).

    Pode-se reclamar de alguns fatores típicos das produções de terror: os personagens são mal desenvolvidos, alguns atores são muito ruins (Lou Taylor Pucci e Elizabeth Blackmore são de fato péssimos), as serras elétricas, facas e galões de gasolina estão sempre convenientemente dispostos ao lado dos personagens, prontos para serem usados uns contra os outros. Mas esta é, de certo modo, a lógica de A Morte do Demônio. Para o prazer sádico do espectador, cria-se um mundo de terror ideal, prendendo os personagens na cabana e fornecendo a cada um todas as ferramentas necessárias para se destroçarem a gosto.

    Enquanto isso, as belas garotas exibem os peitos cobertos de sangue, beijam-se com as línguas cortadas e estupram-se com cipós na floresta. Em pelo menos dois momentos, a câmera adentra sem vergonha as penas abertas das moças. Tudo é fantasioso, fetichista, mas plenamente consciente disso. Se existe um grande mérito nesta produção, é a lucidez dos produtores na exploração do universo e dos personagens. A Morte do Demônio funciona como um videogame bárbaro, divertido, no qual se simula mil e uma maneiras de esvaziar o adversário de todo o seu sangue.

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