Primeiramente gostaria de frisar que vi o filme original há muito tempo atrás, e não farei nenhuma comparação entre essas duas versões. O que importa aqui é que este Robocop me surpreendeu muito positivamente. A história pode não ser nova, mas a forma que é posta em prática é bastante interessante e atual. Para quem não sabe, o filme narra a jornada de Alex Murphy (muito bem interpretado pelo sueco Joel Kinnaman), que descobre um esquema de corrupção na polícia de Detroit e acaba sendo vítima de um atentado. Com a vida por um fio e o consentimento da esposa que buscava uma forma de salvar o marido, Alex é transformado em um artefato, meio humano, meio robô, capaz de unir os dois lados da moeda: a agilidade, precisão e frieza da máquina, com os sentimentos e discernimento do homem. Obviamente que o viés do filme retrata essa questão polêmica em meio a muita ação e correria, mas ao mesmo tempo não é deixada de lado toda a crítica referente ao dilema moral dessa circunstância limite. Na verdade, toda a manipulação política, de interesses e relacionada a dinheiro envolvidos nesse imbróglio é mostrada de maneira bastante ácida e marcante. O filme é uma crítica bastante pungente ao comportamento totalitário americano, e as visões ambíguas sobre corrupção e poder versus virtude e heroísmo são bem interessantes. A forma como um policial honesto é transformada num “monstro” robótico, onde seu primeiro contato com sua nova realidade é marcada pela repulsa, tem ares bastante contundentes. Ele absorve sua nova função amargamente, tornando-se uma figura sem sentimentos, um objeto controlado e manipulado pelos “grandes e poderosos”, sem consciência de ser uma mera marionete. Os cidadãos americanos abraçam Robocop como um novo heroi, mas não o consideram um homem perdido, e sim uma máquina que serve para combater uma criminalidade assustadora. O ritmo ágil e a coesão empregada pelo brasileiro José Padilha são bem vindos, assim como a forma que ele leva seu filme de maneira contundente em sua crítica social. Pode não ser um filme tão importante como Tropa de Elite 1 e 2, mas bom ver que o brasileiro conseguiu manter a discussão social em alto nível em sua primeira aventura hollywoodiana, coisa que ótimos diretores daqui como Walter Salles, Fernando Meirelles e Heitor Dhalia não conseguiram lograr com tanto entusiasmo em terra ianque. Fora isso, o filme conta com um ótimo elenco, onde além de Kinnaman, vemos ótimas performances de Gary Oldman e Michael Keaton, coisa rara em filmes de ação. Isso sem falar em um dos personagens mais interessantes do longa, que não poderia ter sido personificado por melhor ator: Samuel L. Jackson. É ver e avaliar com seus próprios olhos. Enfim, Robocop funciona como ótimo filme de ação e como filme reflexivo, item raro no cinemão de blockbuster atual. Pode não ser perfeito, e tampouco revolucionário, mas para um remake que muita gente não botava fé, o filme veio mostrar que tem uma qualidade bem acima da média do que se tem visto por aí no gênero.