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    Robocop
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Robocop

    Missão dada é missão cumprida

    por Roberto Cunha

    Refilmagens enfrentam problemas desde sua concepção. Se de um lado produtores imaginam uma coisa, de outro, diretores podem pensar diferente e o estúdio, que botou grana no projeto, pode fazer o mesmo. Ou seja, é uma conta enjoada de fechar. Lá na outra ponta tem o fã, que pode ser aquele com mania de comparar isso ou aquilo, esquecendo que é um novo filme. Mas tem também o espectador comum, que viu ou não o original, e poderá se beneficiar (ou não) da novidade, ainda mais se for bem feita. RoboCop, dirigido pelo brasileiro José Padilha, sem sombra de dúvida, se enquadra nesta opção e se você continuar lendo, vai entender o porquê.

    No ano de 2028, a OMNI Corporation domina os sistemas de segurança. Seus drones e robôs estão espalhados mundo afora, mas nos Estados Unidos eles são proibidos, por conta de uma lei e a rejeição de 72% da população. O motivo? A certeza de que "máquinas não sentem". Ganancioso, o empresário Raymond Sellars (Michael Keaton) manda seu cientista (Gary Oldman) criar um novo produto na OMNI Corp., para driblar essa percepção. Ao investigar um esquema de corrupção policial, o oficial Alex Murphy (Joel Kinnaman) acaba vítima de um violento atentado. Com boa parte do corpo destruído, ele vira a cobaia perfeita para a nova invenção da companhia, uma criatura híbrida, cujo maior desafio será saber qual lado irá prevalecer: o homem ou a máquina.

    Entre as curiosidades, citações - em audio e vídeo - do Brasil, e foi bom ouvir bordões de RoboCop - O Policial do Futuro (1987), dirigido por Paul Verhoeven, além do tradicional som da pisada. A tal roupa preta (criticada por xiitas de plantão) ficou incrível e o capacete (pra mim) tem um "Q' de HR Giger, desenhista da criatura de Alien (1978). Para os que buscam efeitos especiais, eles existem e são bons, assim como as cenas de ação, desde o início, tocadas pela boa trilha sonora do brasileiro Pedro Bromfman, com composições próprias, uma revisitada no tema de Basil Poleudoris (do original), e músicas incrivelmente distintas, como "Fly Me To The Moon (In Other Words)" (Frank Sinatra), "If I Only Had a Heart" (do Homem de Lata, em O Mágico de Oz) e uma antológica "Hocus Pocus", do lendário grupo holandês Focus. Todas as três, diga-se de passagem, inseridas com um viés de humor no filme.

    Usando e abusando das questões políticas e sociais, o roteiro do estreante Joshua Zetumer teve o auxílio luxuoso do próprio Padilha, que conhece bem do riscado, como mostrou em Ônibus 174 e nos filmes Tropa de Elite, que o consagraram. Na trama de agora, não faltarão dedos na ferida da sociedade americana (uma ousadia do diretor em território ianque), fruto de um texto ácido, potencializado pela boa interpretação de Samuel L. Jackson, no papel de um apresentador de um programa jornalístico altamente faccioso. A ironia, aliás, é uma constante na produção, que combina ainda doses precisas de drama e tensão. Seja numa cena do reencontro com a família ou naquela em que criador e criatura debatem questões filosóficas sobre ser, pensar e existir, recorrentes ao longo da história, provocando a reflexão. Não se deixe levar pelo preconceito e permita-se tirar suas próprias conclusões. Até porque para muita gente, acredito, o cineasta brasileiro fez seu dever de casa, mostrando que o lema "do caveira" ainda prevalece: missão dada (mesmo no exterior) é missão cumprida. ;)

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