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    Linha de Ação
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Linha de Ação

    Cidade dos corruptos

    por Bruno Carmelo

    Quando foi lançado nos Estados Unidos, Linha de Ação foi severamente atacado pelos jornalistas e críticos. O principal argumento para a rejeição era de que este seria apenas um filme de ação comum, pouco convincente nos dias atuais (segundo o Hollywood Reporter) e inferior a uma centena de outras produções do gênero (segundo o Guardian). Não há dúvidas de que muitos filmes são melhores do que este, mas a opinião geral dos críticos dá a falsa impressão de que esta é uma história genérica. Linha de Ação pode ter diversos defeitos, mas certamente não lhe falta ambição, tanto artística quanto narrativa.

    A primeira e maior ousadia deste filme é construir uma história em torno de meia dúzia de personagens detestáveis e moralmente condenáveis. O policial Billy (Mark Wahlberg) assassinou um homem inocente, mas não foi preso por isso; a namorada dele (Natalie Martinez) seduz outro homem para conseguir um emprego; o político Nicholas Hostetler (Russell Crowe) só pensa nos lucros; sua esposa (Catherine Zeta-Jones) colabora em segredo com o candidato adversário durante as eleições...

    É raro que um filme policial em Hollywood, com grande produção e tantas estrelas no elenco, não ofereça nenhum personagem com quem o espectador possa se identificar. Foi um grande risco apostar no sucesso deste mosaico sombrio, povoado apenas por figuras manipuladoras e interesseiras. O ótimo título original, Broken City, pode significar tanto uma cidade quebrada financeiramente (falida) quanto moralmente (tomada pela corrupção). Os dois se aplicam bem a este filme coral, em que o conjunto é muito mais importante do que as partes que o compõem.

    Outro elemento que confirma que não estamos diante de uma produção comercial qualquer, disposta apenas a faturar alguns milhões de dólares, é a estética do filme. Para construir a impressão de uma cidade corrupta, os tons da fotografia são saturados, granulados, escuros. As imagens têm profundidade de campo restrita, os personagens movimentam-se apenas sob luzes artificiais (de escritórios, bares, cinemas), enquanto o som cria dezenas de efeitos distorcidos, realmente incômodos, criando uma atmosfera claustrofóbica eficaz.

    Infelizmente, com tantas reviravoltas e tantos detalhes em cada personagem, o roteiro não consegue resolver seus conflitos com um mínimo de complexidade. Alguns personagens são simplesmente esquecidos pela história (como Natalia), outros permanecem ambíguos até ganharem uma revelação fácil no final (como o policial interpretado por Jeffrey Wright). Alguns diálogos são explicativos, para que o público não se perca na história, e outros, destinados a mostrar o aspecto marginal da periferia, beiram o ridículo. As tiradas filosóficas do político sobre a podridão da cidade constituem frases de efeito tão grosseiras quanto divertidas - e renderiam bons "memes", nos dias de hoje...

    Ao mesmo tempo, nenhum nome do elenco consegue se destacar, já que cada ator interpreta mais ou menos o estereótipo que construiu para si com seus filmes anteriores: Crowe faz o tipo canastrão e sedutor, Wahlberg é o homem forte, mas que no fundo teria um bom coração, Zeta-Jones é a bela e perigosa. As regras do "filme noir" estão presentes, somadas à trama sobre a faturação excessiva de uma transação imobiliária, para nos lembrar de que estamos em uma economia contemporânea. E os norte-americanos conhecem muito bem os males de que a especulação financeira é capaz...

    Linha de Ação acaba sendo uma obra indefinida, evitando se tornar um filme policial típico, com mocinhos e bandidos – não existe nem um, nem outro nesta história – mas também contornando a crônica social e política dos Estados Unidos atuais. Pelo menos, essa deficiência veio de um excesso de ambição, de um excesso de temas a abordar e imagens a mostrar, e não da vontade de construir uma obra fácil, capitalizando o entretenimento e o nome de suas estrelas.

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