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    O Cavaleiro Solitário
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Cavaleiro Solitário

    História de índio

    por Francisco Russo

    O Cavaleiro Solitário é daqueles filmes cuidadosamente formatados para virar um sucesso de público. Tem nos bastidores Jerry Bruckheimer, veterano do cinema hollywoodiano de ação, na direção Gore Verbinski, o homem por trás dos três primeiros filmes da série Piratas do Caribe, e ainda Johnny Depp, astro com uma longa lista de fãs que, ainda por cima, tem neste filme a chance de criar mais um personagem pitoresco para sua extensa galeria. Diante desta fórmula, o que poderia dar errado? Bastante coisa, a começar por um problema sério que é a síndrome de Piratas do Caribe.

    A bem da verdade, o grande sonho de todos os citados era que O Cavaleiro Solitário se tornasse uma variação do sucesso maior da carreira de Johnny Depp. Além dos envolvidos, o roteiro repleto de reviravoltas que não vão a lugar algum e o ar infantilizado da história como um todo são bastante semelhantes às aventuras de Jack Sparrow. Só que há uma diferença crucial: o índio Tonto está longe de ter o mesmo apelo do capitão do navio Pérola Negra. Por mais que novamente demonstre a criatividade de Depp na elaboração de um personagem singular, especialmente devido à ave quase sempre presente sobre sua cabeça, Tonto é um personagem limitado pelos trejeitos faciais do próprio astro, os mesmos que usou e abusou na pele de Sparrow. Ou seja, por mais que o visual seja interessante, Tonto aparenta ser um personagem repetido, sem algo novo que possa cativar e surpreender o espectador.

    Outro problema sério é em relação ao roteiro, que leva um tempo excessivo na apresentação dos personagens. Com 149 minutos de duração, perde-se tempo demais explicando as origens de Tonto e de John Reid (Armie Hammer, numa atuação parecida com a de Espelho, Espelho Meu, misturando aventura com um ar de paródia) e nas voltas que a dupla recém-formada dá. Ora estão juntos, ora separados, juntos de novo, separados mais uma vez... Este vaivém repleto de piadinhas de efeito cansa, ainda mais devido às poucas cenas de ação presentes no filme. Além disto, há personagens que poderiam ser eliminados sem grande prejuízo para a história como um todo, como os de Helena Bonham Carter e Barry Pepper.

    Apesar de tantos problemas, O Cavaleiro Solitário possui algumas boas soluções que merecem atenção. Uma delas é o método utilizado para que Tonto ganhasse mais destaque do que o personagem-título, fazendo com que o filme girasse em torno de suas memórias. A história oral é bem explorada na trama com brincadeiras em torno das falhas de coerência do que acontece, relacionando-as à falta de memória do próprio Tonto. O personagem, por sinal, surpreende graças a uma pesada maquiagem, que chega a dificultar o reconhecimento de Johnny Depp. Entretanto, o único momento em que o filme consegue realmente empolgar é já perto do final, quando entra em cena a clássica “William Tell Overture: Finale”, música-tema da série de TV The Lone Ranger, na qual o filme é baseado. É quando O Cavaleiro Solitário assume de vez o lado absurdo das cenas de ação, apresentadas numa sequência bastante divertida e concluída com uma ótima piada de Tonto envolvendo uma marca registrada da série.

    Analisando como um todo, O Cavaleiro Solitário é um filme bem problemático mas que possui algumas qualidades relevantes. Está longe de ser o melhor dos trabalhos de Bruckheimer, Verbinski e Depp, mas traz momentos que conseguem capturar a atenção do espectador. Entretanto, caso fosse mais escancarado para a aventura, sem perder tanto tempo com personagens desinteressantes e piadas infantis, seria bem mais interessante.

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