Missão dada e cumprida
por Roberto CunhaSe existe um fator preocupante em sequências, o principal deles é corresponder ao sucesso dos filmes anteriores. O Legado Bourne começou cercado de problemas durante a pré-produção e seu objetivo era dar continuidade aos bem sucedidos "irmãos" A Identidade Bourne (2002), A Supremacia Bourne (2004) e O Ultimato Bourne (2007). Isso, sem o diretor Paul Greengrass e o protagonista Matt Damon. A boa notícia, independente do resultado ainda abaixo do esperado nos Estados Unidos, é que ele conseguiu. E uma das razões (para o bem e para o mal) pode ser a presença de Tony Gilroy, roteirista dos quatro longas e, agora, também diretor.
Mesmo que não seja um exímio piloto, Gilroy consegue tocar a produção inspirada na obra de Robert Ludlum (criador da trilogia), e que traz todos os componentes que conquistaram fãs mundo afora, como operações secretas governamentais e trama com reviravoltas. Se antes falava-se em Treadstone e Blackbriar, a nova operação chama-se Outcome e nela, o agente Aaron Cross (Jeremy Renner) teve sua genética modificada sem saber. Movido por um grande temor conspiratório, que pode colocar tudo a perder, Eric Byer (Edward Norton) é o chefão da vez e para acabar com a "infecção" em seus "pacientes", precisa eliminá-los. Cross é um dos alvos.
Cheio de sequências de tirar o fôlego, com muito tiro e pancadaria do começo ao fim, esse road-movie de ação passa por vários países, tem imagens impressionantes e repete a (boa) fórmula de acrescentar um elemento feminino à trama. Rachel Weisz vive uma cientista e dá conta do recado em cenas muito bem elaboradas, portando armas, correndo e na garupa de motocicleta. Essa, por sinal, é exagerada e poderia ser reduzida sem prejuízo algum para o longa, longo demais, que ganharia mais ritmo ainda. Outro momento bobo é o que envolve um lobo. Embora tenha rimado aqui no texto, desafina na telona.
Mas isso é detalhe. E falando nisso, vale a curiosidade de ver o YouTube citado como fonte de vazamento de informações secretas e também a velada crítica à indústria de medicamentos e drogas. Portanto, "Jason Bourne é só a ponta do iceberg" é mais do que uma frase providencial dita por um dos personagens na trama. Funciona como um sinal de que é possível fazer uma sequência sem a presença do personagem principal da franquia, pega uma carona na sua fama e, claro, deixa escancarada uma porta para um eventual retorno dele. Assista e comprove. O Legado Bourne tinha mesmo uma difícil missão e ela foi cumprida.