Super bem feito, hiper divertido
por Roberto CunhaA nova produção da DreamWorks em 3D vem com tudo e o recado é dado na logo do estúdio pelo menino da lua ao lançar o anzol, que vem na direção do público. Mas é uma emblemática frase em off que dá o tom do que está por vir: "O meu fim teve início no começo". Não é de hoje que os vilões fascinam as pessoas e a dramaturgia tem exemplos de sobra para comprovar esta tese. E como aconteceu no recente e bem sucedido Meu Malvado Favorito, essa "relação" ganha força na medida em que o personagem principal, crente que foi talhado para o mal, descobre que seu destino poderia ser diferente. E o legal é que essa descoberta se dá junto com você.
Na história, duas crianças caem do espaço em lares distintos e a vilania de um começa bem cedo. Afinal, para ele se enturmar na escola era apenas uma das muitas dificuldades que teria com a enorme cabeça azul. Sem contar a necessidade de enfrentar o charme daquele que futuramente se tornaria seu arquinimigo, o herói Metro Man (Brad Pitt). Uma vez crescidos, surge uma mocinha na trama e ela atende pelo nome de Rosane Rocha (Tina Fey), uma repórter dura na queda pela qual o vilão, veja você, arrasta uma asa. Juntos, eles protagonizam cenas de humor, ódio e até romance, porém o mais significativo é, sem dúvida, descobrir que na vida pode não existir o botão "reiniciar", mas é possível começar de novo. E o atrapalhado Megamente (Will Ferrel), ao lado do inseparável Criado (David Cross), cujo visual parece um misto de Chewbacca (Guerra nas Estrelas) e Sully (Monstros S.A.) com um toque de Dory (Procurando Nemo), encontra sua redenção quando percebe que não existe o mal sem o bem: "Nós temos tudo e não temos nada".
Como já é de praxe, e as animações não brincam em serviço, as referência são muitas. Além das escadarias de um museu e o espelho de água em Metro City, que remetem ao Lincoln Memorial em Washington, locação clássica de muitos filmes, sobrou sátira para a campanha de Barack Obama (No, You Can't), pra o Don Corleone de Marlon Brando (O Poderoso Chefão) e até para o ator Pat "Seu Myagi" Morita (Karatê Kid - A Hora da Verdade). Para os pais que apreciam o rock dos anos 80, a produção capricha na trilha com Highway to Hell e Back in Black (AC/DC) e Crazy Train (Ozzy Osbourne), música que, por sinal, chega a ser cantada pelo Criado. O divertido nesta área foi o contraponto que encontraram ao inserir Alone Again (Naturally), hit dor de cotovelo dos anos 70 na voz de Gilbet O. Sullivan. A cena é impagável. Ah! Os mais chegados na música pop não foram esquecidos. Tem coreografia para Bad, de Michael Jackson. E quem gosta de detalhes, a dica é não sair antes dos créditos finais porque tem sequência adicional logo no começo. Assim, com um humor afiado e expressões faciais cativantes não será difícil para o espectador se encantar pelo cabeçudo azul, esse alguém tão desacostumado ao carinho. E o motivo não terá sido nenhum outro senão o fato de que Megamente é super bem feito e hiper divertido.