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    Guerra ao Terror
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Guerra ao Terror

    A Guerra Como Ela É

    por Francisco Russo

    Guerras são matéria prima para o cinema desde sempre, seja pelo caráter histórico ou como denúncia. A Guerra do Vietnã, em especial, rendeu diversos filmes que mostravam os abusos e atrocidades nela ocorridas. A recente Guerra do Iraque começa agora a também ser retratada, geralmente ressaltando o caráter tecnológico ou denunciando os maus tratos cometidos. É o caso do ainda inédito Redacted, de Brian De Palma, e o documentário Procedimento Operacional Padrão. Guerra ao Terror procura apresentar o cotidiano desta guerra, sob a ótica dos militares que a vivenciam. Uma ótica que passa por cima de toda e qualquer ideologia política para ressaltar o que para eles é o mais importante: sobreviver.

    Para apresentar esta realidade, a diretora Kathryn Bigelow resolveu apostar em nomes pouco conhecidos. Mais importante do que ter um astro era ter um personagem, alguém com quem o público pudesse acreditar no que se passa com ele. Pois esta é a chave que faz o filme funcionar: a sensação de veracidade. A tensão onipresente, o medo de que qualquer um à sua volta possa ser um inimigo, a desconfiança geral, a certeza de que a morte possa chegar a qualquer minuto... tudo isto faz parte do cotidiano dos envolvidos, que precisam não apenas realizar o serviço ao qual foram designados como também lidar com suas questões emocionais e psicológicas.

    Neste contexto, é ainda mais relevante a ausência do lado político. Não que os militares sejam alienados, mas esta simplesmente não é sua prioridade. E aqui entra uma questão implícita, referente à necessidade desta guerra. Se houvesse um objetivo mais claro, algo contra quem combater, seriam os envolvidos mais politizados? A própria origem da guerra do Iraque, e sua manutenção, não faz com que as pessoas ajam sem grandes questionamentos ou interesses, como se meramente estivessem cumprindo um serviço? Ou esta simplesmente é uma característica dos dias atuais, onde a grande maioria não se interessa por assuntos mais densos e complexos, preferindo viver na superficialidade? São perguntas que Guerra ao Terror não responde, mas levanta.

    O que o filme apresenta, com bastante competência, são diversos pontos de vista de como encarar uma guerra. E, nesta questão, não é algo específico desta guerra, poderia ser aplicado a qualquer outra. William James (Jeremy Renner, em bela atuação) precisa de adrenalina para viver, é o único meio pelo qual consegue se sentir bem consigo mesmo. Desta forma, apesar de reconhecer os riscos existentes, se oferece para vivenciá-los. JT Sanborn (Anthony Mackie, injustamente esquecido nas premiações) é o típico funcionário padrão, que toma todos os cuidados possíveis para permanecer vivo por mais um dia. Já Owen Eldridge (Brian Geraghty) tem a certeza absoluta que está ali para morrer, a qualquer momento.

    Estas distinções ao encarar a situação extrema em que vivem fazem com que o grupo formado por James, Sanborn e Eldridge tenha características bastante peculiares. No trabalho funciona muito bem, mesmo com divergências sobre o modo de agir, mas no lado pessoal enfrenta problemas que, às vezes, colocam o trio em risco. São pequenos detalhes que compõem uma guerra e que, muitas vezes, definem determinados comportamentos e atos.

    Guerra ao Terror é um bom filme, que traz uma reconstituição precisa da realidade na guerra do Iraque. Conta com um elenco coeso, que logo descarta os atores de maior renome, e efeitos especiais e sonoros sem excessos, usados apenas de acordo com a necessidade da trama. E aos que de imediato veem os militares como os heróis da história, fica a pergunta: como você se sentiria se um estrangeiro estivesse em seu país e andasse pelas ruas em um tanque onde há uma placa escrito "fique 100 metros atrás ou atiramos", sem oferecer qualquer chance de defesa? Ou que, como em determinado momento do filme é dito, os militares "ali têm liberdade para matar"? De ambos os lados há excessos e Guerra ao Terror também os apresenta. Afinal de contas, a realidade é bem mais complexa do que uma mera escolha entre mocinhos e bandidos.

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